Terapeutas do deserto

Jean-Yves Leloup e Leonardo Boff, teólogos e escritores conhecidos mundialmente, partilham neste livro, Terapeutas do Deserto, o conhecimento acerca do ser humano e sua possível experiência com o sagrado, com o transcendente. Inicialmente, os textos reunidos nesta obra, foram apresentados num seminário para terapeutas, em Brasília. Fílon de Alexandria, Francisco de Assis e Graf Dürckheim são os referenciais para estes escritos.

Através desta obra, os autores desejam convidar os leitores a percorrer um caminho de construção e transformação, rumo à liberdade e uma nova consciência, não mais de desprezo e idolatria, mas de respeito. Assim, é apresentado um itinerário espiritual baseado na tradição dos Antigos Terapeutas e de Graf Dürckheim, bem como o percurso percorrido por Francisco de Assis. Esse itinerário espiritual coloca a pessoa diante de uma luz, que é presença, mas também expõe as sombras, pela qual cada pessoa deve passar, assumindo-a como parte de sua história.

Desde modo, fala-se da experiência de profundidade que existe em todo ser humano e das etapas que constituem essa experiência, o que ajuda a conhecer e compreender a mística das grandes tradições. Esta experiência é única e há várias maneiras do numinoso se manifestar, pois ele se manifesta numa linguagem própria, segunda a qual a pessoa consiga compreender; por isso, cada pessoa faz sua experiência.

Através dos capítulos, percebe-se um acento na antropologia, tanto que em dado momento é apresentado algumas visões acerca do ser humano. A longa caminhada espiritual apresenta-se como um convite a atravessar as diversas etapas do itinerário, rumo à inteireza, à plenitude, vivendo em harmonia e reconciliação, consigo e com o todo da criação.

Por fim, entende-se que experiência do vazio nesse processo é de fundamental importância, pois é preciso desentulhar a vida, a fim de que a experiência do Totalmente Outro seja possível, ou seja, para se estar sensível à sua presença. O silêncio, e sua riqueza, nunca devem ser esquecidos, pois há no ser humano uma dimensão contemplativa que não deve ser reprimida, pois cada pessoa tem um desejo que somente o infinito é capaz de preencher. Num mundo tão agitado e ruidoso, desejoso do fazer, a experiência do não fazer, do permanecer imóvel e em silêncio será libertadora e integradora.


Leonardo Henrique Agostinho, MSC
Religioso da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração,

formado em Filosofia e estudante de Teologia, na PUC-SP.