Pedagogia da resistência

Por: Daniel Ribeiro de Almeida Chacon

A presente obra encontra sua mais profunda realização nos desafios radicais que a realidade brasileira nos impõe. Com extremo pesar e indignação, testemunhamos um cenário taciturno de apogeu do espírito do obscurantismo anti-intelectual, do negacionismo científico, do fundamentalismo religioso, da negação da humanização de outrem, numa oferta da vida e dignidade dos(as) esfarrapados(as) deste mundo como sacrifício aceitável em nome do deus mercado.

Nossa realidade é, assim, profundamente marcada pela institucionalização de políticas necrófilas que irremediavelmente violam e sacrificam a vida da população, sobretudo daquela mais frágil, drasticamente silenciada e socialmente inaudita que, de um modo ou de outro, encontra-se desprezada e à mercê de sua própria desventura.

Com efeito, uma Pedagogia da Resistência torna-se sobremodo imperiosa. Nesse sentido, no ano em que se completa o centenário de nascimento do Patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire, realizamos aqui um retorno crítico ao seu legado. A partir dos postulados de sua filosofia da práxis, ou seja, inspirados por uma pedagogia do(a) oprimido(a), manifesta em sua vida e obras, procuramos encontrar elementos que nos ajudem na luta histórica e social hodierna.

Dessarte, nosso esforço aqui de pensar os contributos dos postulados freireanos para a nossa realidade social, educacional e política não se reduz à publicação de um específico comentário. Compreendemos, pois, que uma mera reprodução dogmática dos postulados freireanos seria, em si mesma, um contrassenso. Portanto, pensar Freire desassociado das importantes questões que nos interpelam na atualidade seria o mesmo que desdizê-lo.

Ora, o legado freiriano é, assim, uma presença viva, uma interpelação ética e um desafio radical de compromisso com os(as) deserdados(as) e condenados(as) da terra, na conquista da dignidade humana. Nesse horizonte, ainda que em meio a densas trevas, reafirmamos, nesta obra, como classe oprimida, e em intrínseca comunhão com os(as) mais desafortunados(as), nossa esperança, nossa força, nossa resistência, e, desse modo, nossa própria brasilidade, que nos conduz, assim, a entoar corajosamente que: “verás que um(a) filho(a) teu(tua) não foge à luta”.


Daniel Ribeiro de Almeida Chacon é professor efetivo e pesquisador da Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais –FaE/CBH/UEMG. Detém formação em três áreas, a saber: Filoso­fia, Pedagogia e Teologia/Ciência da Religião. Atualmente, realiza pesquisas nos seguintes temas: Filosofia Política, Filosofia da Religião e Educação e Direitos Humanos.


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