Cuidar do ser

Com o objetivo de apresentar o pensamento de Fílon de Alexandria sobre os Terapeutas do Deserto, expondo toda a sabedoria desse grupo e sua contribuição ao aspecto espiritual, Jean-Yves Leloup traduz, do grego, o texto de Fílon sobre esses homens e mulheres que buscavam cuidar do ser, em toda sua integridade, isto é, corpo, alma e espírito. Assim, o livro Cuidar do Ser está dividido em três partes: uma introdução, uma tradução do escrito de Fílon e um comentário sobre a obra traduzida.

Compreende-se, a partir da leitura, que esses terapeutas eram pessoas que tinham um modo de vida sóbrio e exigente, na solidão e no silêncio, e que se dedicavam ao estudo das Escrituras. Homens e mulheres, que viviam afastados e que cuidavam, acolhendo, pessoas doentes, tanto física quanto psiquicamente. Esses Terapeutas, segundo o texto de Fílon, esforçam-se constantemente em aprender a ver claro e se apegam ao exercício da contemplação.

De acordo com uma nota sobre a tradução, o objetivo de traduzir o escrito do pensador alexandrino é torná-lo acessível. Isso fica claro quando se entende o valor dos ensinamentos contidos na obra, explicados depois nos comentários de Leloup, que se apreendidos podem ajudar o ser humano dos dias de hoje a se recentrar e encontrar um itinerário de busca, que conduzirá a uma vida unificada, isto é, integrada e coerente.

A capacidade de ouvir é uma das propriedades intrínsecas dos Terapeutas do Deserto e nesta obra, várias vezes, se faz referência a essa qualidade. Ouvir o próximo, ouvir a natureza e ouvir as Escrituras, certos de que o Ser se revela aí. Por isso a importância do silêncio e da solidão, para que possam aprender a ouvir e distinguir os sinais. Silencio e solidão conduzem a um ouvir apurado, o que por sua vez, leva a um estilo de vida harmonioso, de liberdade e maturidade.

A sabedoria exposta neste livro, sobre a vida e o proceder dos Terapeutas do Deserto, podem ser indicativos para uma busca de vida equilibrada, apontando caminhos e contribuindo num itinerário de crescimento e amadurecimento.  O resultado desse caminho é uma transformação pessoal, que incide no coletivo, é um aprender a enxergar o verdadeiro valor das coisas, sabendo distinguir o efêmero do essencial. É nesse sentido que Cuidar do Ser coloca-se como uma obra de grande importância e que pode contribuir para a transformação, na medida em que apresenta um modelo espiritual embasado na antropologia.


Leonardo Henrique Agostinho, MSC
Religioso da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração,

formado em Filosofia e estudante de Teologia, na PUC-SP.