Conheça as obras de Byung-Chul Han
Um dos filósofos mais citados atualmente, Han é autor do best-seller “Sociedade do Cansaço”
Byung-Chul Han nasceu na Coreia, mas fixou-se na Alemanha, onde estudou Filosofia na Universidade de Friburgo e Literatura Alemã e Teologia na Universidade de Munique. Em 1994, doutorou-se em Friburgo com uma tese sobre Martin Heidegger. É professor de Filosofia e Estudos Culturais na Universidade de Berlim e autor de inúmeros livros sobre a sociedade atual publicados pela Editora Vozes.
Byung-Chul Han mostra que a sociedade disciplinar e repressora do século XX descrita por Michel Foucault perde espaço para uma nova forma de organização coercitiva: a violência neuronal. As pessoas se cobram cada vez mais para apresentar resultados – tornando elas mesmas vigilantes e carrascas de suas ações. Em uma época onde poderíamos trabalhar menos e ganhar mais, a ideologia da positividade opera uma inversão perversa: nos submetemos a trabalhar mais e a receber menos. Essa onda do eu consigo e do yes, we can tem gerado um aumento significativo de doenças como depressão, transtornos de personalidade, síndromes como hiperatividade e burnout. Este livro transcende o campo filosófico e pode ajudar educadores, psicólogos e gestores a entender os novos problemas do século XXI.
Nos dias atuais não há mote que domine mais o discurso público do que o tema da transparência. Ele é evocado enfaticamente e conjugado sobretudo com o tema da liberdade de informação. A sociedade da transparência é uma sociedade da desconfiança (Misstrauen) e da suspeita (Verdacht), que se baseia no controle em virtude do desaparecimento da confiança. A forte e intensa exigência por transparência aponta justamente para o fato de que o fundamento moral da sociedade se tornou frágil, que valores morais como sinceridade ou honestidade estão perdendo cada vez mais significado.
O Eros se aplica, em sentido enfático, ao outro, que não pode ser abarcado pelo regime do eu. No inferno do igual, que iguala cada vez mais a sociedade atual, não mais nos encontramos, portanto, com a experiência erótica, que pressupõe a transcendência, a radical singularidade do outro. O terror da imanência, que transforma tudo em objeto de consumo, destrói a cupidez erótica. O outro que eu desejo e que me fascina é sem-lugar; ele se retrai à linguagem do igual. O desaparecimento do outro é um sinal da sociedade que vai se tornando cada vez mais narcisista; a sociedade, esgotada a partir de si, não consegue se libertar para o outro. É uma sociedade sem Eros.
A Topologia da Violência de Byung-Chul Han caracteriza, sobretudo, aquela transformação do acontecimento da violência que se realiza na mudança da decapitação (sociedade pré-moderna da soberania e do sangue) para a deformação (sociedade moderna da disciplina) até chegar à depressão (sociedade atual do desempenho e do cansaço).
Arrastamo-nos por trás da mídia digital, que, aquém da decisão consciente, transforma decisivamente nosso comportamento, nossa percepção, nossa sensação, nosso pensamento, nossa vida em conjunto. Um enxame digital! Embriagamos-nos hoje em dia da mídia digital, sem que possamos avaliar inteiramente as consequências dessa embriaguez. Essa cegueira e a estupidez simultânea a ela constituem a crise atual.
Ainda existe em relação ao conceito de poder um caos teórico. Opõe-se à evidência do seu fenômeno uma obscuridade completa de seu conceito. Para alguns, significa opressão. Para outros, um elemento construtivo da comunicação. As representações jurídica, política e sociológica do poder se contrapõem umas às outras de maneira irreconciliável. O poder é ora associado à liberdade, ora à coerção. Para uns, baseia-se na ação conjunta. Para outros, tem relação com a luta. Os primeiros marcam uma diferença forte entre poder e violência. Para outros, a violência não é outra coisa senão uma forma intensiva de poder. Ele ora é associado com o direito, ora com o arbítrio. Tendo em vista essa confusão teórica, é preciso encontrar um conceito móvel que possa unificar as representações divergentes. A ser formulada fica também uma forma fundamental de poder que, pelo deslocamento de elementos estruturais internos, gere diferentes formas de aparência. Este livro se orienta por essa diretriz teórica. Desse modo, poderá ser chamado poder qualquer poder que se baseie no fato de não sabermos muito bem do que se trata.
A beleza encontra-se hoje em uma situação paradoxal. De um lado, se propaga de modo inflacionário: é exercido em toda parte um culto da beleza. De outro lado, ela perde sua transcendência, entregando-se à imanência do consumo: ela constitui o lado estético do capital. A experiência do negativo diante do belo, assim como diante da sublimidade ou do choque, cede lugar completamente ao gosto culinário, ao like, à curtida. Trata-se, em última análise, de uma pornografização do belo. Em seu novo livro, Byung-Chul Han reflete sobre o belo na era digital. Esse ensaio invoca e evoca as formas do belo que se manifestam como verdade, como desastre ou como sedução. São exploradas também as dimensões do belo que fundariam uma ética ou política do belo. Esta é uma leitura estimulante e reveladora e um diagnóstico lúcido da atualidade.
As fronteiras entre “realidade real” e “realidade ficcional”, que marcam o entretenimento, tornam-se cada vez mais fluidas. O entretenimento já abrangeu há muito tempo também a “realidade real”. Ele transforma agora o sistema social como um todo, sem marcar propriamente, porém, a sua presença. Assim, parece se estabelecer um hipersistema, que é coextensivo com o mundo. O código binário entretém/não entretém, que está no seu fundamento, deve decidir o que é passível de pertencer ao mundo e o que não é, ou seja, o que é em geral. O entretenimento se eleva a um novo paradigma, a uma nova fórmula de mundo e de ser. Para ser, para pertencer ao mundo, é preciso ser algo que entretém. Apenas aquilo que entretém é real ou efetivo. Não é mais relevante a distinção entre mundo fictício e mundo real, à qual o conceito de entretenimento de Luhmann ainda se aferra. A própria realidade parece ser um efeito do entretenimento.
A globalização é um processo complexo. Não faz desaparecer simplesmente a diversidade de signos, representações, figuras, temperos e cheiros. A produção da unidade ou da monotonia do igual não é algo característico nem da natureza nem da cultura. À economia da evolução, que opera, vale dizer, também na cultura, pertence, ao contrário, a geração da diferença. A globalização segue um caminho dialetal, fazendo surgir dialetos. É problemática a ideia de uma diversidade cultural orientada pela proteção de espécies que só poderia ser alcançada por cercados artificiais. Seria infrutífera a pluralidade museológica ou etnográfica. À vivacidade de um processo de troca cultural pertence a proliferação, mas também o desaparecimento de determinadas formas de vida.
O zen-budismo é uma forma de budismo mahãyãna de origem chinesa e orientada para a meditação. O presente estudo é concebido “comparativamente”. As filosofias de Platão, Leibniz, Fichte, Hegel, Schopenhauer, Nietzsche e Heideggeir, entre outras, são confrontadas com as inteleções filosóficas do zen-budismo. O “método comparativo” é utilizado aqui como um método desbravador de sentidos.
Nesta obra rigorosamente filosófica, Byung-Chul Han reflete, tomando como referência Kant, Heidegger, Lévinas e Canetti, entre outros, sobre a re-ação à morte para indagar a complexa tensão entre este conceito em relação aos de poder, identidade e transformação. Morte e alteridade se inspira na fenomenologia e na literatura contemporânea para contrapor as reações de ou a ênfase do eu ou o amor heróico na hora de encarar a morte. Além disso, mostra outra maneira de “ser para a morte” em um modo de tomar consciência da mortalidade que conduz à serenidade. Dessa maneira, tematiza-se uma experiência da finitude com a qual se aguça uma sensibilidade especial para o que não é o eu: a afabilidade.
Hoje em dia, as coisas ligadas ao tempo envelhecem muito mais rápido do que antes. Elas decaem rapidamente naquilo que é passado e fogem à atenção. O presente se reduz à ponta da atualidade. Assim, o mundo perde algo de sua duração. A causa do encolhimento do presente não é, como se assume equivocadamente, a aceleração. Antes, o tempo, como uma avalanche, lança-se adiante, porque ele não tem mais uma parada. Aqueles pontos do presente entre os quais não existiria nenhuma força gravitacional e nenhuma tensão, pois são meramente aditivos, desencadeiam a ruptura do tempo, o que conduz ao aceleramento sem direção e sem sentido.
A sociedade paliativa é uma sociedade do curtir. Ela degenera em uma mania de curtição. O like é o signo, o analgésico do presente. Ele domina não apenas as mídias sociais, mas todas as esferas da cultura. Nada deve provocar dor. Não apenas a arte, mas também a própria vida tem de ser instagramável; ou seja, livre de ângulos e cantos, de conflitos e contradições que poderiam provocar dor. Esquece-se que a dor purifica. Falta, à cultura da curtição, a possibilidade da catarse.
O que hoje chamamos de crescimento é, na realidade, uma proliferação cancerígena e sem rumo. Vivemos atualmente um delírio de produção e de crescimento que se parece com um delírio de morte. Ele simula uma vitalidade que oculta a proximidade de uma catástrofe mortal. A produção se assemelha cada vez mais a uma destruição. É possível que a autoalienação da humanidade tenha atingido um grau tal que ela experimentará seu próprio aniquilamento como um gozo estético.
Rituais podem ser definidos como técnicas simbólicas de encasamento. Transformam o estar-no-mundo em um estar-em-casa. Fazem do mundo um local confiável. São no tempo o que uma habitação é no espaço. Fazem o tempo se tornar habitável. Sim, fazem-no viável como uma casa. Ordenam o tempo, mobiliam-no. Os rituais não assinalam, no presente ensaio, um local saudosismo. Servem, ao contrário, como contraponto perante o qual nosso presente se delineia de modo mais nítido. É sempre nostalgia que se esboçará uma genealogia do desaparecimento que, não obstante, não será interpretada como história da emancipação. Ao decorrer disso, serão delineadas patologias do presente, sobretudo a erosão da comunidade. Reflete-se, desse modo, a respeito de outras formas de vida que seriam capazes de libertar a sociedade de seu narcisismo coletivo.
O trabalho de jardinagem era, para mim, uma meditação silenciosa, um demorar-se no silêncio. Ele permitia ao tempo se demorar e exalar. Quanto mais trabalhava no jardim, mais respeito tinha diante da Terra, de sua beleza encantadora. Nesse meio-tempo, fiquei profundamente convencido de que a Terra é uma criação divina. O jardim me levou a essa convicção, sim, à compreensão que se tornou para mim agora uma certeza, que adquiriu um caráter de evidência. Evidência significa, originariamente, ver. E eu vi.
A proliferação do igual é uma “plenitude na qual transluz ainda apenas o vazio”. A expulsão do outro traz um vazio adiposo da plenitude. Obscenos são a hipervisibilidade, a hipercomunicação, a hiperprodução, o hiperconsumo, que levam a uma rápida estagnação do igual. Obscena é a “ligação do igual com o igual”. A sedução é, em contrapartida, a “capacidade de arrancar o igual do igual”, deixá-lo fugir de si mesmo. O sujeito da sedução é o outro.
O presente livro explora a vida interior da filosofia hegeliana na medida em que a ilumina a partir do fenômeno do poder. Ele não é um componente marginal do sistema hegeliano, mas sua constituição interna. Será tratado em toda sua complexidade, tanto em seu brilho quanto também em seus limites. A exploração do espírito hegeliano pela ótica do poder serve ao mesmo tempo a um outro experimento, a um outro ensaio. Ela tornará visíveis as formas do ser que, na contraluz do poder, não são capazes de aparecer.
A democracia em tempo real sonhada nos inícios da digitalização como democracia do futuro se mostra como uma ilusão completa. Enxames digitais não formam um coletivo responsável, que age politicamente. Os followers, na condição de novos súditos das mídias sociais, deixam-se adestrar em gado de consumo por smart influencers, influenciadores inteligentes. Ficam despolitizados. A comunicação dirigida pelos algoritmos nas mídias sociais não é nem livre, nem democrática.
Este livro gira em torno de coisas e não-coisas. Desenvolve tanto uma filosofia do smartphone quanto uma crítica da inteligência artificial a partir de uma nova perspectiva. Ao mesmo tempo, recupera a magia do sólido e do tangível e reflete sobre o silêncio que se perde no ruído da informação.
Estamos perdendo nossa capacidade de não fazer nada. Nossa existência é completamente absorvida pela atividade e, portanto, totalmente explorada. Como só percebemos a vida em termos de desempenho, tendemos a interpretar a inatividade como um déficit, uma negação ou uma mera ausência de atividade quando, muito pelo contrário, é uma capacidade independente interessante. Byung-Chul Han investiga os benefícios, o esplendor e a magia do ócio, projetando um novo modo de vida – que inclui momentos contemplativos – para enfrentar a atual crise de nossa sociedade e impedir nossa própria exploração e destruição da natureza.
Shanzhai é o nome do neologismo chinês para falsificações. Na China existem expressões como Shanzhaiismo, cultura Shanzhai ou espírito Shanzhai. Esse neologismo abrange todas as áreas da vida. Partindo desse fenômeno genuinamente chinês, Byung-Chul Han desconstrói o conceito ocidental de original e redefine a arte, a criação e a criatividade.
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José Pardinho Souza
Sempre publicando obras importantes