O enraizamento

Por: Leonardo Henrique Agostinho, MSC

O enraizamento

O enraizamento, da filósofa e mística francesa Simone Weil, é a obra da maturidade da autora, como salienta o prefácio do livro. Foi publicado originalmente em 1949 por influência de Alberto Camus e mesmo não sendo uma biografia a obra traz as aspirações e os princípios de Weil. Nota-se na obra um acento marcadamente político, pois a autora trata de temas sociais, em especial os referentes à história da França e ao período histórico em que autora viveu.

Simone Weil inicia O enraizamento tratando das necessidades da alma e logo afirma que “a lista de obrigações para com o ser humano deve corresponder à lista das necessidades humanas vitais, análogas à fome” (2023, p. 15). Assim, a autora discorre sobre necessidades físicas e sobre necessidades que tem a ver com a vida moral. Weil afirma que se essas necessidades não forem satisfeitas o ser humano passa a viver num estado vegetativo, comparável à morte, pois essas necessidades são, segundo seu entender, alimentos que possibilitam o desenvolvimento da vida humana.

A sensibilidade e a atenção de Simone Weil para com os frequentemente esquecidos pela sociedade é evidente, pois sempre escreve e faz referência aos operários e aos camponeses, que de acordo com ela são esgotados no corpo e na alma. Aliás, ela é capaz de falar da dor dos operários e da necessidade de se modificar essa realidade; citando o caso dos operários que passam a ser suplemento de máquinas, vistos como coisa. Weil preocupa-se tanto com a massa de operários e de camponeses que faz uma critica a publicidade, que agindo a favor do poder dominante, através de mentiras, coage e domina a mente e a vida dos que não tem tempo para verificar a verdade dos fatos.

Enraizamento e desenraizamento são as palavras chaves dessa obra. Para Simone Weil o enraizamento é “a necessidade mais importante e mais ignorada da alma humana”, pois “cada ser humano precisa ter raízes múltiplas” (2023, p. 53). O desenraizamento, por sua vez, é compreendido por ela como o sentimento de não estar em casa ou de não pertencimento, seja a um povo, a uma cultura ou a uma história. Weil critica, assim, a história expansionista e imperialista, que conquistou e colonizou outros povos, tendo entre os projetos de dominação o desenraizamento das culturas. Critica, assim, certa noção de patriotismo, que segundo ela pode vir a ser uma idolatria, culminado em regimes totalitários.

Por fim, Simone Weil afirma no corpo de sua obra que “quem é desenraizado desenraiza. Quem é enraizado não desenraiza” (2023, p. 58). Chama, então, a atenção para a necessidade de se ter raízes, não no sentido de estar parado ou fixado, mas no de ter bases e fundamentos, isto é, uma raiz que sustente tanto o indivíduo quanto um grupo.

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Leonardo Henrique Agostinho, MSC é religioso da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração e estudante de Teologia na PUC/SP.