“Carência e plenitude”, de Leloup, sugere ao leitor aprender a ouvir o silêncio
Carência e plenitude, de Jean-Yves Leloup, inicia introduzindo o leitor numa terapia ao estilo alexandrino; fala-se de estilo e não de escola. Esse estilo, como se apresenta nesta obra, é uma forma de exercer a memória, por isso, tantas vezes se falará de anamnese. Assim, essa anamnese será indicada como método do estilo alexandrino a fim de se tornar um caminho de cura e de despertar, isto é, uma verdadeira terapia. Fazer uma anamnese ou exercitar a memória é um exercício, não de retornar à nascente, mas de permitir que a nascente retorne até a pessoa. Várias são as abordagens para uma anamnese, o sofrimento e a experiência do Numinoso são apresentados por Leloup como um meio. Leloup evoca muitas figuras e exemplos, um deles é a itinerância do Povo de Israel pelo deserto. Um povo peregrino que se encontra em estado permanente de questionamento, pois inquieto e desejo de sentido.
No que concerne à experiência do Numinoso, o autor lembra que ele causa medo e fascinação e que é preciso, diante dessa manifestação, fechar a boca e os olhos, pois o Numinoso só é bem expresso pelo silêncio. Deve-se, portanto, aprender a ouvir o silêncio. O Numinoso, contudo, pode ser percebido ou experimentado através ou da natureza, da arte, do encontro ou da liturgia; cada pessoa, de acordo com sua história, poderá experimentar através de uma dessas vias, pois a linguagem do Numinoso é uma linguagem compreensível para cada pessoa, ademais, essa experiência será vivida por cada individuo, em diferentes níveis de intensidade.
Importante notar que essa experiência é imprevisível, isto é, não é possível antever o momento, pois segundo Jean-Yves Leloup, ele ocorre exatamente onde menos se espera. A experiência do Numinoso permanece para sempre na vida de quem a viveu e conduz a um despertar. Na questão do sofrimento, seja físico, psíquico, ou a solidão pode constituir-se momentos para uma anamnese e ocasião para abertura ao transcendente. Na penúltima parte da obra, Leloup oferece elementos para um discernimento, pois essas experiências não devem apenas ser vividas, mas também interpretadas. Nesse processo de discernimento, a presença de um mestre ou terapeuta, no sentido alexandrino, é muito importante, pois eles ajudarão a perceber se a experiência é autentica ou não.
Leonardo Henrique Agostinho, MSC
Religioso da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração,
formado em Filosofia e estudante de Teologia, na PUC-SP.
Compartilhe nas redes sociais!
Comentários
Seja você a fazer o primeiro comentário!