Paulo Sérgio Carrara: “Ser presbítero é uma bela vocação a ser vivida no serviço aos irmãos, sobretudo aos mais abandonados”

Padre da Congregação Redentorista há 22 anos, Paulo Sérgio Carrara reuniu sua experiência como doutor em Teologia e o texto-base do 17º Encontro Nacional dos Presbíteros, realizado entre 26 de abril e 02 de maio de 2018, em Aparecida do Norte/SP, para lançar o livro: Presbítero – Discípulo do Senhor e Pastor do Rebanho. O evento, que contou com a presença de mais de 500 participantes, entre padres e bispos, originou o texto, que ainda passou por algumas revisões e acréscimos do autor, antes da publicação.

“A obra sintetiza alguns aspectos da teologia e da espiritualidade do ministério presbiteral, a partir do tema proposto para o Encontro dos Presbíteros: Discípulo do Senhor e Pastor do Rebanho.  ‘Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho, pois o Espírito vos constituiu como guardiães’ (At 20,28)”, conta.

Em uma entrevista sobre a obra, o autor aborda o contexto atual e a missão dos presbíteros, além do público para quem o texto é voltado e o que o leitor pode esperar do livro.

Leia na íntegra:

Pergunta: Você inicia o texto de apresentação com a seguinte frase: “No contexto cultural e eclesial de nossos dias, a identidade do presbítero aparece, às vezes, eclipsada”. A que se deve tal afirmação? Qual seu significado?

Paulo Sérgio Carrara: Passamos da cristandade à modernidade e pós-modernidade. Num contexto em que a Igreja era a única referência, ou uma das únicas, para a vida cultural e social, a figura do presbítero era bastante uniforme. Hoje há muitas referências de sentido e a sociedade se tornou plural. Mesmo na Igreja há cenários teológicos e eclesiais diferentes, portanto aquela figura clássica do presbítero se eclipsou, ou seja, se transformou. Embora a Igreja ofereça referências claras para a vida e a missão dos presbíteros, muitos relatam crise de sentido e falta de rumo. No fundo, a identidade do presbítero dependeu também das vicissitudes históricas, ainda que o fundamento permanente tenha se mantido. Então, por causa de mudanças sócio-culturais históricas importantes a identidade do presbítero é posta em questão. Mas, repito, não faltam orientações da Igreja para a correta compreensão dessa vocação no contexto atual. O Papa Francisco não se cansa de acentuar os elementos essenciais para a vida presbiteral.

P: Quem é o presbítero?

PSC: Como afirma o lema do encontro, o presbítero é “o guardião da comunidade”, um ministério suscitado pelo Espírito Santo, é um carisma. Sua função é presidir a comunidade que o bispo que lhe confia, a serviço da Palavra de Deus, da Eucaristia e do Espírito Santo. Associado a Cristo chefe-pastor da Igreja, ele preside a vida cristã numa pequena comunidade Eucarística que chamamos Paróquia. Assim, ele co-preside com o bispo a vida na porção do povo de Deus que chamamos diocese, em comunhão com os outros presbíteros que formam o presbitério. Ele é um batizado, tem o sacerdócio comum dos fiéis, está na comunidade, como um irmão entre os irmãos. Por outro lado, enquanto a preside na unidade e na caridade, age in persona Christi (representando sacramentalmente Cristo que preside a Igreja toda e cada comunidade cristã).  É uma bela vocação, a ser vivida no serviço aos irmãos, sobretudo aos mais abandonados. Dizia-nos um antigo professor de teologia: “ser padre não é ser mais, ser padre é ser menos”, o que quer dizer que é um serviço. Quando se faz servir buscando vantagens pessoais, cai no clericalismo que, segundo o Papa Francisco, é uma “caricatura do ministério presbiteral”.

P: Para quem os textos são voltados?

PSC: É um livro-síntese de alguns aspectos importantes que foram tratados com os presbíteros. A boa aceitação do texto provocou a ideia da publicação. O livro está voltado mais para presbíteros e seminaristas, mas também os cristãos leigos poderão tirar proveito da leitura, porque o presbítero preside, em nome de Cristo, uma comunidade cristã formada por tantos cristãos engajados e a serviço da comunidade em ministérios diversos.

P: O que o leitor pode esperar deste livro?

PSC: O leitor pode esperar alguns elementos que o ajudarão a compreender a vocação presbiteral, em alguns de seus aspectos teológico-espirituais e também pastorais, à luz de documentos de Igreja, do magistério do Papa Francisco, da reflexão teológica atual e da tradição espiritual da Igreja.

Capa do livro "Presbítero"

Presbítero – Discípulo do Senhor e Pastor do Rebanho

Muito se fala e se escreve hoje sobre a crise do ministério presbiteral. De fato, mudanças sociais e culturais tornaram a sociedade mais secularizada e mesmo pós-cristã, uma vez que o substrato da vida cultural e social não emana mais da presença da Igreja. O contexto atual oferece multiplicidade de sentidos e a religião emerge como horizonte possível, mas não obrigatório. A identidade presbiteral, antes alicerçada no chão firme da Cristandade, confronta-se agora com a terra incógnita das mudanças cada vez mais rápidas. O momento demanda a redescoberta do significado desse ministério para a Igreja, chamada a ser sinal do Reino de Deus no meio do mundo. A superação do binômio sacerdócio-laicato faz parte da urgência do essencial para a construção da “Igreja em saída”. Este livro aborda, de modo sintético, alguns elementos da teologia, espiritualidade e missão do presbítero. Foi o texto-base do 17º Encontro Nacional dos Presbíteros. A boa aceitação do texto fez brotar a ideia de publicá-lo em forma de livro.