O meio ambiente como lugar privilegiado de encontro com Deus

Em 2015, o Papa Francisco apresentou à Igreja a encíclica Laudato Si’, tendo por objetivo lançar luzes sobre a questão ecológica e promover diálogos que suscitassem um discernimento acerca do cuidado da Casa Comum. Neste documento, o Santo Padre faz um apelo, tocado pela situação de degradação do meio ambiente; indicando que essa preocupação deve unir a todos.

Deste modo, fruto de um olhar atento aos sinais dos tempos, esta encíclica é oferecida como um convite urgente sobre o cuidado para com a Criação. Nela,Francisco denuncia a deterioração do planeta, consciente de que só haverá mudança e progresso se toda a família humana se empenhar. O papa, também, faz questão de anunciar que toda a criação é lugar privilegiado de encontro com Deus, convidando todas as pessoas a perceber na natureza uma fonte límpida que conduz a um itinerário espiritual, pois a “contemplação da criação permite-nos descobrir qualquer ensinamento que Deus nos quer transmitir através de cada coisa, porque, para o crente, contemplar a criação significa também escutar uma mensagem, ouvir uma voz paradoxal e silenciosa” (LS, 85).

A consciência de que toda a criação é fruto do amor de Deus conduz a uma vivência espiritual profunda, enraizada na certeza de que “todo o universo material é uma linguagem do amor de Deus, do seu carinho sem medida por nós. O solo, a água, as montanhas: tudo é carícia de Deus” (LS, 84). Aquele que contempla a natureza e que permite ser tocado por Deus, nela, vê nascerem em si sentimentos de responsabilidade e cuidado, de sensibilidade e integração no todo da criação.

Por fim, o cuidado com a natureza é respeito para com Deus, o Criador; respeito aos nossos semelhantes e a nós mesmos, pois dependemos de toda a criação e estamos interligados. Deve ser acima de tudo, respeito para com a própria natureza, reconhecendo seu valor, evitando todo tipo de exploração. Responsabilidade e cuidado com a Casa Comum nascem da certeza de que Deu se revela através de sua criação, comunicando seu amor, e manifestando seu agir cuidadoso para com seus filhos e filhas.


Leonardo Henrique Agostinho, MSC
Religioso da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração,

formado em Filosofia e estudante de Teologia, na PUC-SP

Dica de leitura:

O presente livro revisita, com uma nova linguagem, temas que já há 40 anos preocupam a teologia que busca a libertação das muitas opressões que se agravam nos tempos atuais: o crescimento da injustiça social mundial, a super exploração do planeta pela voracidade consumista de poucos, deixando a maioria na fome e na miséria, a exigência de uma ética que inclua os direitos da natureza e da Mae Terra, as novas perspectivas da questão do feminino e uma espiritualidade do cuidado pela Casa Comum e pelos escassos bens e serviços naturais. Valoriza a volta do religioso e do místico nos tempos atuais, uma verdadeira saudade de Deus e também a forca dos pequenos que lutam com fé por sua vida e libertação.