Itinerário da mente para Deus, de São Boaventura

Escrito por São Boaventura, que foi professor de Teologia em Paris e Ministro Geral da Ordem dos Franciscanos, o Itinerário da mente para Deus é umas das obras mais lidas e comentadas de todo o corpo escrito pelo Doutor Seráfico. No pequeno opúsculo, o autor manifesta as bases da cultura cristã ocidental e a mística franciscana, tanto que como inspiração, Boaventura vê no número de asas do Serafim, que aparece a São Francisco de Assis, a sugestão do número de degraus, no itinerário rumo a Deus.

Boaventura, a fim de degustar e encontrar paz do coração, refugia-se no Monte Alverne, mesmo lugar onde Francisco de Assis se abrigava para longas meditações; lá, meditando e refletindo sobre a ascensão da alma para Deus, é tomado pela lembrança da visita divina ao Santo de Assis, na qual um Serafim estava alado de seis asas. Assim, Boaventura vê no número de asas, os degraus de uma escada que conduzem à união perfeita da alma com Deus.

Os degraus dessa escada são seis. Os dois primeiros referem-se aos vestígios de Deus nas criaturas, os dois segundos convidam a pessoa a contemplar Deus na própria alma e a verificar nela a atuação da Graça santificante, já os dois últimos degraus chamam à contemplação de Deus em si mesmo, em sua unicidade, e admirar a beatíssima Trindade. Deste modo, o Doutor Seráfico, exemplifica esse caminho espiritual em três etapas, nas quais, a alma que busca: vê Deus fora de si, dentro de si e acima de si. 

O objetivo da obra, percebe-se percorrendo suas páginas, é conduzir outros irmãos à contemplação e à paz perfeita. Assim, a paz da alma é o fim último, como um estágio onde a alma transcendeu e superou todas as criaturas e superou-se a si mesmo; aqui, superar é entendido como um estado de liberdade.

Desde o inicio do livro, o tema do amor é evidenciado. Para Boaventura, que segue as concepções de sua ordem, o amor deve ser direcionado a Cristo Crucificado e deve ser ardentíssimo, tão ardente que seja capaz de elevar a alma, arrebatando-a. O exemplo máximo da expressão desse amor ao Cristo é Francisco de Assis, que de tanto amá-lo, viu manifestar-se em seu corpo os sinais da Paixão.


Leonardo Henrique Agostinho, MSC
Religioso da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração,

formado em Filosofia e estudante de Teologia, na PUC-SP.