Introdução à Filosofia Clínica: uma obra ousada e despretensiosa
Miguel Angelo Caruzo, autor da obra
Há pouco mais de dez anos, conhecia uma proposta terapêutica única chamada filosofia clínica. Em poucas semanas, iniciava meus estudos no curso de formação. Hoje, após ter me tornado filósofo clínico, trabalhando como terapeuta e formador, da etapa teórica até a supervisão de estágios, lanço um livro: a Introdução à Filosofia Clínica. Trata-se do fruto de estudos teóricos, da prática de consultório e do aprendizado contínuo de quem se dedica também a formar novos filósofos clínicos.
O leitor dessa obra vai se deparar com uma proposta ousada e despretensiosa. A ousadia fica por conta de sintetizar um método terapêutico cujo conteúdo de cada capítulo poderia preencher volumes enciclopédicos inteiros sem esgotar sua profundidade. Mas, por ser uma síntese, não houve a pretensão de abarcar as minúcias de tão vasto tema. Ao mesmo tempo, a proposta também busca alcançar um público amplo para tornar conhecida essa jovem área com seus pouco mais de vinte e seis anos desde quando começou a ser ensinada.
A filosofia clínica foi pensada e sistematizada pelo médico e filósofo gaúcho Lúcio Packter nos anos de 1980. Em meados dos anos de 1990, com o recém-criado Instituto Packter, Lúcio inicia a formação dos filósofos clínicos em Porto Alegre e viaja pelo país divulgando sua proposta terapêutica. Embora a clínica filosófica esteja em expansão, com vários centros de formação pelo Brasil e alcançando seu espaço em terras internacionais, ainda carece de bibliografias introdutórias. A obra que melhor cumpriu essa função até hoje foi Filosofia Clínica – Propedêutica, do próprio Lúcio Packter, publicada pela primeira vez em 1997. Insuperável obra introdutória até agora, nela Lúcio prioriza um convite à filosofia clínica em detrimento de uma apresentação um pouco mais sistematizada. Por isso, a necessidade de uma Introdução à filosofia clínica que, ao lado de algumas outras escritas por colegas com esse fim, enriquece a bibliografia de formandos e sacia o desejo de interessados no tema.
Na Introdução à Filosofia Clínica, o leitor encontra uma apresentação gradual do conteúdo que constitui o método desse novo paradigma no universo das terapias. A fim de abranger o público para o qual se destina, a obra procura manter a fidelidade ao construto conceitual sem, contudo, prender-se em um tecnicismo acadêmico. Em outras palavras, os termos imprescindíveis da filosofia clínica são apresentados de modo simples, sem recorrer às terminologias filosóficas acessíveis apenas aos especialistas nas áreas da filosofia ou das terapias.
Além disso, os elementos constituintes do corpo metodológico da clínica filosófica são apresentados de modo gradual, facilitando a compreensão de cada parte. A didática do livro permite o entendimento sem qualquer conhecimento pressuposto nas áreas da filosofia ou terapêutica. Deve-se acrescentar que embora todo autor deixe um pouco de si no que escreve, pode-se pensar que o caráter inédito dessa obra está em haver uma busca por deixar a filosofia clínica falar mais do que as inclinações, preferências ou crenças pessoais de quem a expõe.
O leitor da Introdução à Filosofia Clínica tem acesso à explicação da filosofia clínica, seu lugar no universo das terapias e da filosofia, à história de seu sistematizador e da formação do método, às etapas da clínica e aos esclarecimentos sobre o processo de formação. Todas as informações e suas complexidades apresentadas de forma gradual, em linguagem acessível.
Trata-se de um convite a conhecer a filosofia clínica. Em compreender as partes por meio da visão do método como um todo. Para quem se interessa pela terapia, em conhecer uma proposta singular. Para os interessados em filosofia, em vislumbrar uma aplicação prática. Para os filósofos clínicos em formação, em acessar um manual de consulta. Para os filósofos clínicos que se dedicam à docência ou ao consultório, em um recurso bibliográfico para recorrer em consultas pessoais, profissionais ou pesquisas para produção de novas reflexões.
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