Entre vícios e virtudes: para afinar os instrumentos e encontrar a desejada harmonia, é necessário identificar e combater sem medo os vícios e cultivar as virtudes

Por Leonardo A.R.T. dos Santos, tradutor da obra

No livro “Entre vícios e virtudes: a vida cristã frente aos desafios do mundo e da Igreja“, a teóloga italiana Cettina Militello propõe uma rica análise de como ser cristão nos dias de hoje. O livro nasceu de uma série de artigos publicados na Vita Pastorale. É breve, mas profundo. A densidade do texto se faz sentir nos vários ecos de autores clássicos em diálogo constante com uma teologia refinada.

Falar em vida cristã hoje pode ser algo polêmico por causa das pré-compreensões que barram o aprofundamento. Essas pré-compreensões fazem com que nos detenhamos na superficialidade fácil da crítica descomprometida. Cettina faz diferente. Ela retoma o sentido mais originário dos termos que nomeiam vícios e virtudes. Identifica vícios e virtudes na vida da igreja e dos batizados, critica com perfeição problemas que nem sempre percebemos e propõe caminhos para que todos sejam profetas do Reino inaugurado por Jesus.

Para ela, vícios e virtudes representam o jogo da vida. É verdade que falar de virtudes pode soar moralista, chato mesmo. Por isso, também se fala dos vícios. Não com o dedo em riste contra tudo e todos, mas com a mesma ironia e bom humor que marcava os antigos escritores. Estes eram mestres em evidenciar ironicamente o que havia de corrompido em seu tempo. Mesmo sendo teológico, o livro dialoga com clássicos como Plauto e Dante de maneira perspicaz.

Concluo esta breve apresentação retomando uma imagem muito bem-sucedida da autora: a música. Cettina vê a Igreja como uma grande sinfonia cuja partitura é escrita pelo Espírito Santo. Para afinar os instrumentos e encontrar a desejada harmonia, é necessário identificar e combater sem medo os vícios e cultivar as virtudes. Mesmo que haja alguma dissonância, o concerto há de ser virtuoso.