Filocalia, a palavra grega que significa amor pela beleza

Filocalia é uma palavra grega que significa amor pela beleza. Segundo Jean-Yves Leloup, na introdução desta obra, esse modelo de ver e viver encontra suas raízes nos escritos hebraicos, em especial o livro do Gênesis, pois através do poema bíblico da criação, que descreve sua beleza e grandeza, desperta os leitores ou os ouvintes à admiração e o respeito. Assim, a bíblia, com seus relatos, pode ser entendida como uma escola do olhar, pois leva à mudança no modo de ver as coisas, de uma visão reduzida à uma visão aberta e consciente, reconhecendo que a presença de Deus, envolve e habitas as coisas visíveis.

Depois, Filocalia é a palavra que designa uma coletânea de textos ascéticos e místicos, escritos entre os séculos IV e XV. Estes textos, escritos em grego, comportam ensinamentos espirituais, que foram inspirados por um estilo de vida que se situava no viver na beleza, a partir do olhar (contemplação) e da experiência espiritual. Esse viver baseava na prática de exercícios de atenção e de consciência, que levava os monges a ficarem sempre despertos e vigilantes à grande Presença, sem nunca esquecer nem se afastar da Vida, isto é, de Deus. Já que, de acordo com o espírito e o ensinamento da Filocalia, esquecer do Ser ou viver num esquecimento de Deus é que constitui o pecado.

Como uma compilação de textos a Filocalia ajuda na compreensão da teologia, da espiritualidade e da vida sacramental das igrejas ortodoxas. Bem como insere num estilo sábio de vida, no qual as pessoas estão plenamente conscientes e atentas à presença de Deus. A presente Filocalia, publicada pela Editora Vozes, traduzida do grego para o francês por Jean-Yves Leloup, também compilada por ele, traz textos de doze autores, que podem ser encontrados nas filocalias gregas ou russas.

Assim, por meio dessa tradução tem-se contato com os escritos de alguns Padres do Deserto, bem como uma pequena introdução à história de suas vidas. Alguns temas aparecem e são retomados em vários autores, pois todos vivem e pensam a partir da mesma experiência transformadora, que é o encontro com a Beleza, no silêncio do deserto. No fim, todos os textos convidam a uma vivencia da pacificação interior, respondendo ao chamado de se unificar interiormente, segundo a tradição hesicasta, que encontra um equivalente na paz beneditina.

Leonardo Henrique Agostinho, MSC
Religioso da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração,

formado em Filosofia e estudante de Teologia, na PUC-SP.