ARTIGO: Leloup convida o leitor a vivenciar uma existência mais silenciosa e amorosa
Jean-Yves Leloup em “A Montanha no Oceano“, publicado pela Editora Vozes, respondendo à pergunta de quais são as práticas, no mundo contemporâneo, mais essenciais e capazes de dar sentido à vida, diz, sem hesitar, que é a meditação e a compaixão. Nesse sentido, nessas duas práticas, Leloup menciona duas tradições religiosas, budismo e cristianismo. Segundo ele, meditação e compaixão devem se completar e serem duas faces de um mesmo exercício cotidiano, já que meditação sem compaixão pode tornar-se uma forma de auto-hipnose e compaixão sem a meditação pode vir a ser um ativismo, sem discernimento e profundidade.
A grande finalidade de A Montanha no Oceano é convidar o leitor a vivenciar uma existência mais silenciosa e amorosa, independente da fé que se professa, pois sabedoria e compaixão não atributos de uma religião particular, mas constituem um arquétipo comum de todos os seres humanos. Partindo dos ensinamentos cristãos e budistas, as colocações de Leloup almejam não um sincretismo, mas oferecer uma constatação de que os princípios das duas correntes se aproximam.
O objetivo de Jean-Yves Leloup é a meditação, ou seja, espera que cristãos e budistas possam meditar juntos; serem capazes de sentar, respirar e calaram-se juntos, exteriormente e interiormente. Assim, não se disserta no livro sobre as vantagens e as inconveniências das práticas de meditação nem se faz comparações entre as tradições.
Explica-se, contudo, que a importância da pratica da meditação e da compaixão não é para conduzir os fiéis, de determinada credo, a um patamar superior em relação aos outros, mas conduzi-los por um caminho, que faça dele, um autêntico ser humano. Isso é possível, pois silêncio e solidão não constituem uma separação dos outros, antes dá àquele que medita uma capacidade de se unir aos demais, despertando sua consciência para a doação. Deste modo, o próprio tempo de meditação deve ser entendido como tempo onde a pessoa doa: doa seu tempo, seu corpo, seu espírito, sua atenção, sua respiração etc.
Por fim, buscar e acolher o silêncio e a paz, que podem conduzir à verdadeira identidade. Essa busca, que se concretiza na meditação, traz benefícios não só a quem pratica, mas a todos os seres; pois há uma dimensão comunitária da meditação. Por isso, o período de meditação deve ser vivenciado não só para si, entendendo que na meditação vivencia-se um itinerário que desloca o “eu”, libertando a pessoa das disposições egóticas.
Leonardo Henrique Agostinho, MSC
Religioso da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração,
formado em Filosofia e estudante de Teologia, na PUC-SP.
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