Papa responde: livro reúne pensamentos do Santo padre
Conhecido por sua maneira descontraída e informal de responder às perguntas feitas por jornalistas durante suas viagens apostólicas pelo mundo, Papa Francisco aborda sempre assuntos centrais e decisivos para a Igreja, a fé e a atuação dos cristãos no seio da família e da sociedade.
Desde sua primeira viagem – em julho de 2013, para o Brasil –, o Papa concedeu dezenas de entrevistas e coletivas de imprensa, sempre trazendo mensagens claras sobre o papel do cristão no mundo e também de um alimento espiritual para todas as pessoas que buscam compreender seu papel e orientar sua vida à paz, ao bem e à verdade.
Editado por Giovanni Maria Vian e publicado pela Editora Vozes, o livro “Papa Francisco responde” reúne perguntas e conferências que representam uma síntese do pensamento do Santo padre sobre todas as principais questões que dizem respeito à Igreja e à sociedade atuais.
Selecionamos três perguntas e respostas que você encontra nesta obra:
28 de julho de 2013
Encontro com os jornalistas no voo de volta do Rio de Janeiro.
Aura Miguel, Rádio Renascença: Santidade, eu queria lhe perguntar por que motivo pede com tanta insistência para rezarmos pelo senhor. Não é normal, usual, ouvir um papa pedir assim tanto para rezar por ele…
Papa Francisco: Eu sempre pedi isso. Quando era presbítero, pedia isso, mas não com tanta frequência; comecei a pedi-lo com uma certa frequência no trabalho de bispo, porque eu sinto que, se não é o Senhor a sustentar neste trabalho de ajudar o povo de Deus a avançar, uma pessoa não consegue… Eu me sinto verdadeiramente com muitas limitações, com muitos problemas, sinto-me também pecador – vocês sabem disso! – e devo pedir isso. Isso me vem de dentro! Também peço a Nossa Senhora que reze por mim ao Senhor. É um hábito, mas é um hábito que me vem do coração e também pela necessidade que tenho para o meu trabalho. Eu sinto que devo pedir… Eu não sei, é assim…
1º de outubro de 2013
Entrevista concedida a Eugenio Scalfari, fundador do La Repubblica.
Eugenio Scalfari: Jesus na sua pregação disse que o ágape, o amor aos outros, é o único modo de amar a Deus. Corrija-me se erro.
Papa Franscisco: Não erra. O Filho de Deus encarnou para infundir na alma dos homens o sentimento da fraternidade. Todos irmãos e todos filhos de Deus. Abbá, como ele chamava o Pai. Eu traço-vos o caminho, dizia. Segui-me e encontrareis o Pai e sereis todos seus filhos e Ele aprazer-se-á em vós. O ágape, o amor de cada um de nós em relação a todos os outros, dos mais próximos aos mais distantes, foi precisamente o único modo que Jesus nos indicou para encontrar o caminho da salvação e das bem-aventuranças.
10 de março de 2015
Entrevista concedida a José María Di Paola: A moda atual impele os jovens para relações virtuais. Também na vila acontece isso. Que fazer para que saiam do seu mundo de fantasia? Como ajudá-los a viver a realidade e as relações verdadeiras?
Papa Francisco: Separaria o mundo da fantasia das relações virtuais. Às vezes as relações virtuais não são fantasia, são concretas, são de coisas reais e muito concretas. Mas evidentemente é desejável a relação não virtual, isto é, a relação física, afetiva, no tempo e no contato com as pessoas. Penso que o perigo que corremos nos nossos dias é dado pelo fato que dispomos de uma capacidade muito grande de reunir informações, de nos poder movimentar numa série de instrumentos virtuais, e eles podem transformar-nos em “jovens museus”. Um “jovem museu” está muito bem-informado, mas que faz de todas as informações que acumula? A fecundidade na vida não passa pela acumulação de dados nem só pela estrada da comunicação virtual, mas na mudança concreta da existência. Ultimamente significa amar. Podes amar uma pessoa, mas se não a levas pela mão, ou não a abraças, não é amor; se amas alguém a ponto de querer casar-se com ele, quer dizer, se queres entregar-te completamente, e não o abraças, não lhe dás um beijo, não é amor verdadeiro. O amor virtual não existe. Existe a declaração de amor virtual, mas o verdadeiro amor prevê o contato físico, concreto. Devemos ir ao essencial da vida, e o essencial é esse. Portanto, não “jovens-museus” informados só virtualmente, mas jovens que sintam e com as mãos – eis o concreto – levam em frente os fatos da sua vida… Gosto de falar das três linguagens: da mente, do coração e das mãos. Deve haver harmonia entre as três. De tal modo que pensas no que sentes e fazes, sentes o que pensas e fazes e fazes o que sentes e pensas. Isso é concreto. Permanecer só no plano virtual é como viver numa cabeça sem corpo.
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