Sem tempo para nada
Quem não está com pressa hoje em dia? Quem não está lotado de compromissos, mantendo um equilíbrio precário entre trabalho, família e outras atividades? Tudo é para ontem, e você que lute com a culpa de não fazer o impossível em um tempo cada vez mais curto. O resultado, mais do que o cansaço, é esgotamento – físico, mental e emocional. Quais caminhos para lidar com isso?
Essas são as questões centrais de Sem tempo para nada, de Luís Mauro Sá Martino lançado pela Editora Vozes. O livro mostra como, literalmente, perdemos a noção de tempo.
“Aprendemos a ver o tempo como uma mercadoria que precisa ser usada o mais rápido possível e ser substituída por outra. Por isso, temos uma pressa cada vez maior em tudo o que fazemos”, diz o autor. Para Martino, deixamos de lado a ordem de importância das coisas: “quando tudo é urgente, não conseguimos ver o valor de cada momento”.
Essa relação apressada tem impacto direto em nossas vidas.
“O amor resiste a muita coisa, menos à falta de tempo”, diz Martino. Segundo o autor, a aceleração cada vez maior de todas as atividades prejudica diretamente as relações pessoais: “Até o tempo de diversão, o ‘tempo livre’, é planejado como produção de descanso”. Por isso, explica, ficamos ansiosos pelo final de semana: é hora da “obrigação de se divertir e ser feliz”.
Outra consequência dessa aceleração é a relação com a nossa memória e nossa história. “Registramos rápido para esquecer depressa. Quando o presente é tudo o que importa, o passado se dilui, e coisas importantes se apagam”, diz o autor. Para Martino, nossa busca por um eterno e rápido presente diminui nossos laços com o passado: “Tiramos mais e mais selfies, mas raramente as vemos; elas registram um presente que não se transforma em memória”.
Sem tempo para nada é o resultado de mais de uma década de estudos a respeito do tempo, que começaram em 2008, quando o autor passou um ano como pesquisador na Universidade de East Anglia, na Inglaterra.
A sugestão decisiva para escrever foi feita em 2020 por seu filho, Lucas, na época com oito anos de idade. “Uma vez a gente estava conversando e ele perguntou ‘Papai, por que você não escreve um livro sobre o tempo?’. Como já estava pensando nisso, achei que era uma boa coincidência e um motivo para começar”, lembra.
O livro discute como usamos o tempo: “o tempo é um problema social: é como sociedade que ficamos acelerados, é como sociedade que podemos mudar”. Mas como fazer isso?
Para o autor, não existem soluções fáceis: “A mudança não vai aparecer em um passe de mágica. Uma boa parte do seu tempo não é seu – você precisa trabalhar para pagar as contas, cuidar de si e de outras pessoas”. A questão, afirma, é como lidar com o tempo que resta.
Segundo ele, é necessário, por exemplo, deixar de glamourizar o excesso de trabalho, e respeitar os tempos de lazer e descanso: “o aumento indefinido da jornada não significa maior qualidade ou produção, sem mencionar os riscos que isso traz”.
Outro ponto é resgatar o tempo livre. Segundo o autor, uma das razões do cansaço crônico é que não temos mais tempos vazios. “Qualquer instante livre é preenchido nas redes sociais, recebendo mais informações. Não desconcentramos, e o resultado é um cansaço que não passa”.
O problema, explica, não são as mídias sociais. “Também estou em todas elas, mas só posto fotos de comida”, brinca. Para ele, a questão é dar a elas a devida importância, e saber desconectar.
Escrito em uma linguagem simples e direta, Sem tempo para nada é indicado para entender como chegamos a essa situação e, principalmente, quais as alternativas realistas para lidar com isso. Para quem quer fazer do tempo, novamente, um aliado.
Luís Mauro Sá Martino é doutor em Ciências Sociais, foi pesquisador-bolsista na Universidade de East Anglia, na Inglaterra. É autor dos livros: No caos da convivência, Teoria da comunicação e The Mediatization of Religion, publicado pela editora britânica Routledge, entre outros. É professor da Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade Cásper Líbero, além de atuar na Casa do Saber e como palestrante em empresas, escolas e universidades.
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