Psique e Família

Por: Paula Pantoja Boechat

O livro Psique e Família Aplicações Junguianas à Terapia Familiar, foi lançado pela Editora Vozes num momento muito propício. Os analistas junguianos festejaram muito este lançamento, por causa da importância do tema.

Psique e Família - Aplicações Junguianas à Terapia Familiar
Psique e Família – Aplicações Junguianas à Terapia Familiar

O atendimento de casais e famílias, em nossos consultórios têm crescido muito nos últimos anos, especialmente neste período de reclusão por uma pandemia que custa a findar, e onde a hiperconvivência dentro do lar se tornou uma exigência importante durante muito tempo.

A pessoas sempre precisaram de uma visão terapêutica que desse conta dos desafios das relações familiares, gerando conflitos, desentendimentos, ao mesmo tempo podendo também promover a proteção, o aconchego e a visão de pertencimento a um grupo solidário como devem ser as famílias em seus momentos mais saudáveis.

Jung, pelo seu ecletismo e interesse multidisciplinar, em suas obras, mostra a importância de, em se tratando do indivíduo, também estarmos atentos às suas relações sociais e familiares. Ele diz:

“A neurose obriga-nos a ampliar o conceito de doença além da ideia de um corpo isolado, perturbado em suas funções, e a considerar o homem neurótico como um sistema de relação social enfermo.” (Jung, O.C. Vol.XVI-1; par.37)

Esta afirmação pode coincidir com a visão dos terapeutas familiares sistêmicos, onde um indivíduo apresenta um certo comportamento que estaria sendo “aceito ou até mesmo provocado” pelas relações dentro de seu grupo familiar.

Ao analisarmos uma pessoa em atendimento individual, podemos perceber como as mudanças estimuladas pela terapia podem provocar reações em outros membros da família. Muitas vezes essas reações são benéficas para aquele indivíduo e podem até promover mudanças em todos os membros da família na direção de relações mais saudáveis. No entanto, outras vezes podem surgir movimentos de antagonismo, de não aceitação das mudanças, uma vez que ao haver a mudança de um membro, todos os outros também se sentem na contingência de mudar, para conseguir um relacionamento mais adequado.

Como nos diz Jung (1946):

“O processo de Individuação tem dois aspectos fundamentais: por um lado é um processo interior e subjetivo, de integração, por outro, é um processo objetivo de relação com o outro, tão indispensável quanto o primeiro “( O.C. Vol.XVI-2; Ab-Reação, Análise de Sonhos e Transferência. Par.448)

Neste livro, vamos ter acesso a textos de importantes autores junguianos, como Terril Gibson, que nos traz a visão da Intergeracionalidade, assunto muito abordado pelos Terapeutas Familiares Intergeracionais, como Bowen, Andolfi, Boszormenyi-Nagy, e outros, como o próprio Gibson nos diz.

Laura Dodson vem trazer a ideia da Individuação no Relacionamento. Assunto importante elaborado anteriormente pelo famoso analista junguiano, Guggenbhül-Craig (1977) em seu livro:” Marriage,Dead or Alive”, e atualmente enfatizado por Simon, da Escola de Terapia Familiar de Heidelberg, quando nos traz seu conceito de “Individuação Relacionada”.

Sue Crommelin nos fala dos arquétipos que se constelam nos adolescentes, tanto na saúde como na doença; Murray Stein nos fala da importância de entendermos as relações de inveja e competição dentro da fratria.

Polly Young Eisendrath nos faz repensar os sonhos dos casais, e a necessidade do diálogo; Ann Belford Ulanov traça importantes paralelos entre a Alquimia, o Coniunctio e o Casamento; e Renos Papadopoulos nos traz para uma confrontação com a teoria dos Arquétipos e sua importância nas relações familiares.

O livro dá conta de preencher uma importante lacuna no trabalho psicoterápico junguiano, num momento em que percebemos que as famílias estão mudando muito. Existem as famílias homossexuais, as famílias monoparentais, etc. Quanto mais mudam, mais percebemos o quanto esse vínculo persiste em sua importância, e nós, como terapeutas, precisamos saber trabalhar com essas diferenças, explorando e incentivando cada vez mais as relações saudáveis dentro delas.

BIBLIOGRAFIA:

Elkaïm,Mony,org – Panorama das Terapias Familiares,Vol.1;SP:Summus,1998,p.57

Guggenbühl-Craig,A. – Marriage -Dead or Alive ;Zürich:Spring Publications, 1977.

Jung,C.G.-O.C.Vol.XVI-1 ;A Prática da Psicoterapia (…….);Petrópolis:Vozes,2010.

________- O.C. Vol. XVI-2 : Ab-Reação,Análise de Sonhos e Transferência(…….);Petrópolis:Vozes,2010.

Laura Dodson  e Terril Gibson,org – Psique e Família,Aplicações Junguianas à Terapia Familiar.Petrópolis,Vozes,2022.

Simon, F.- Der Prozess der Individuation:Uber den Zusammenhang von Vernunft und Gefühlen.Göttingen:Vanderhoeck & Ruprecht,1984.

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Paula Pantoja Boechat é médica, analista junguiana membro da IAAP, coordenadora de cursos de formação em Terapia Familiar Sistemica e Junguiana, e autora do livro: Terapia Familiar: Mitos, Símbolos e Arquétipos, WAK.