Política
Por: Daniel da Fonseca Lins Júnior
A nova tradução da Política, de Aristóteles, pela Editora Vozes é uma excelente oportunidade para revisitar esse clássico que não só marcou a história da política, mas também que não cessa de nos colocar diante de nós mesmos sobre os conceitos fundamentais da reflexão sobre a vida coletiva na cidade.
De fato, a Política cumpre as características do que é um clássico do pensamento e, se por alguma questão, deixássemos de saber o que é uma obra de referência, uma obra clássica, a leitura de suas páginas nos colocaria de novo nos trilhos. Se um clássico é uma obra que não só passou na prova do tempo, mas também continua dizendo através do tempo o que veio dizer, a obra de Aristóteles é, por assim dizer, o clássico dos clássicos.
Isso porque, mesmo com tantos séculos depois, ela continua informando o nosso tempo e nos fornecendo lentes para compreender a história e a atualidade. Isso também porque a Política nos deu o léxico, ela constituiu a gramática básica das discussões, principalmente no Ocidente.
O texto da Política está organizado em oito pequenos livros, tratando sobre a cidade (I), a natureza da cidade e as constituições (II), a definição de cidadão (III), o objetivo da ciência política e as formas de governo (IV), as revoluções (V), as diferenças entre as várias formas de democracia (VI), a felicidade na cidade (VII), exame do sistema educacional (VIII).
Essas teses apresentadas aqui em linhas gerais nos dão a amplitude de temáticas abordadas. Na perspectiva aristotélica, por exemplo, a política não se dá separada da questão da felicidade dos cidadãos, sendo a política uma continuação da discussão ética. Há de se observar uma continuidade entre a Ética a Nicômaco, por exemplo, ou seja, a política parte do solo da discussão moral. Essa relação é indissociável e o texto aristotélico é o paradigma dessa relação tanto para a antiguidade, quanto para os nossos dias.
Além desses elementos mínimos da obra, a dinâmica também se tornou clássica: Aristóteles é um pensador ímpar. Ele costumeiramente faz a história de um determinado problema, veja, por exemplo, o levantamento das constituições presente na obra. Ele dialoga com esses dados da tradição, ao mesmo tempo que os critica. A Política é um excelente exemplo de como Aristóteles se posiciona criticamente diante das ideias platônicas.
Assim, Aristóteles questiona seu mestre, enquanto formula seu discurso político e estabelece uma forma diferente de se colocar diante da mesma realidade. Seria muito simplista pensar que Aristóteles é apenas um crítico de Platão e que sua filosofia advém dessa crítica.
A Editora Vozes nos brinda com essa tradução, realizada cuidadosamente pelo prof. Vinícius Chichurra, também responsável por outras traduções pela mesma editora.
Tornar acessível aos leitores da língua portuguesa essa obra seria o bastante para listar elogios, no entanto, a editora e o tradutor foram além na formatação do texto, na organização da obra.
A presente tradução cumpre bem a missão de transpor o mundo aristotélico para nosso idioma, sem prejuízo diante do texto, mas facilitando a leitura com fluidez, permitindo que o leitor possa adentrar na floresta de conceitos que é a Política. Uma boa tradução não é boa porque facilita o trabalho, apenas sendo uma paráfrase do texto. Mas a excelência está em conduzir o leitor, de forma segura, pelos meandros do pensamento e de forma rigorosa.
Assim, a coleção Vozes de Bolso, novamente traz um título acessível e de qualidade na forma e no conteúdo.
Daniel da Fonseca Lins Júnior é Doutor em filosofia pela Universidade Federal do Ceará.
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