Perspectivas junguianas sobre supervisão clínica

Por: Selene Regina Mazza

Perspectivas junguianas sobre supervisão clínica
Perspectivas junguianas sobre supervisão clínica
A clínica psicológica junguiana é discutida sob diversos aspectos, principalmente sobre à formação do psicoterapeuta/analista, especialmente no que se refere ao papel da supervisão no processo formativo profissional. 

A lacuna de material teórico, em referência a possíveis diretrizes a serem seguidas na supervisão da clínica junguiana, é preenchida com o lançamento do livro “Perspectivas junguianas sobre supervisão clínica”, Paul Kugler (org.), publicado pela Editora Vozes.

Os capítulos apresentam contribuições significativas de autores reconhecidos na literatura junguiana: Paul Kugler (como organizador), Mario Jacoby, Michael Fordham, Donald Kalsched, Lionel Corbett, entre outros.

A obra está dividida em seis partes que contemplam uma rica discussão sobre os aspectos teóricos e práticos da supervisão individual. A primeira parte apresenta dados históricos que referendam a prática da supervisão junguiana desde os tempos de Jung (ainda que sem a definição efetiva de supervisão) até os modelos atuais na formação de analistas, especialmente em Zurique. A segunda parte, com temáticas voltadas para a supervisão individual, discorre sobre propostas teóricas que envolvem o campo prático analítico, sem fórmulas específicas ou técnicas, proposições sobre a transferência e contratransferência, o arquétipo do mentor e o estado de ânimo do supervisionando. O destaque especial desta parte é o brilhante texto de Michael Fordham que fundamenta boa parte das discussões iniciais e a posteriori sobre a supervisão clínica junguiana.

A terceira parte inicia com o texto de Donald Kalsched, “Êxtases e agonias na supervisão do seminário de casos”, discutindo sobre a atenção cuidadosa que deve ser oferecida em discussões de casos em grupo (no modelo de seminários de casos) em decorrência de ansiedades e inseguranças que possam surgir em psicoterapeutas/analistas iniciantes, assim como, a voracidade interpretativa. Salienta também o risco destrutivo da inflação do supervisor e como isto pode vir a afetar a discussão do caso em si. Complementa-se a esta discussão as temáticas seguintes que oferecem “possíveis” respostas de como podemos aprimorar a supervisão em grupo, sem cair em “ciladas sombrias”.

A quarta parte, “Avaliação do progresso da supervisão”, expõe oito ensaios de autores distintos sobre os aspectos e critérios de avaliação da supervisão. Eles tomam como princípio pontos subjetivos e objetivos, tipologia, situação analítica, desenvolvimento da personalidade do psicoterapeuta/analista. Michael Fordham destaca a importância do não julgamento do psicoterapeuta/analista, referendando que o supervisor não está no papel de professor no sentido formal, que o ato de ensinar está implícito. Os demais ensaios corroboram a importância de o psicoterapeuta/analista amadurecer a seu tempo, aporte teórico e da identidade pessoal.

A quinta parte destaca a condição de ser supervisor. Paul Kugler proporciona uma rica discussão sobre o processo evolutivo do supervisor salientando como pode ocorrer o desenvolvimento profissional a constituição de uma nova persona e quais são as fronteiras intrapsíquicas e interpsíquicas no exercício da supervisão clínica junguiana. Complementa-se esta parte com “A educação do supervisor” referendando o processo de construção e alicerce teórico e, consequentemente, pessoal. E “O supervisor idoso” que discorre sobre o envelhecer, a lacuna geracional, estereótipos e possíveis situações conflituosas.

A última parte da obra dedica-se ao trabalho de supervisão em instituições. Os ensaios elencam a formação institucional de analistas e supervisores, seus aspectos positivos e negativos, a significativa importância da análise pessoal e concomitante supervisão clínica. Um modelo de supervisão clínica é proposto por Jean Carr entrelaçando paciente/cliente – supervisionando – supervisor – instituição, como uma proposta de compreensão das influências e dinâmicas que recaem na supervisão. E por fim, o último ensaio da obra “Supervisão: a profissão impossível” que deve ser lida com profundidade por supervisores e supervisionados.

Há muito tempo precisamos de um ensaio como esta obra. À primeira vista pode se pensar que seja um livro dedicado somente àqueles que desempenham o papel de supervisor, mas ele é um livro de leitura obrigatória a todos que estão engendrados na clínica junguiana. Apesar da especificidade da escrita ser direcionada ao processo formativo de analistas, ele não deixa de ser um correlato significativo aos que se dedicam ao estudo da teoria psicológica junguiana.

O papel da psicoterapia na atualidade revela a necessidade de um cuidado especial para a dialética estabelecida entre paciente/cliente – psicoterapeuta/analista e, consequentemente entre supervisor – supervisionado. E esta não deve ser construída sobre “achismos” psicológicos, sendo importante a definição das possibilidades de exercício da prática psicoterápica junguiana, tendo como alicerce a ideia de Jung sobre o conhecimento integrado de teoria, técnica e personalidade do psicoterapeuta analista.

O conhecimento teórico junguiano é algo construído através e na prática clínica. Concebermos uma “intelectualização” dos conceitos propostos por Jung não define a sua condição de ser psicoterapeuta, pois existem diferenças entre a experiência e o conhecimento teórico clínico, que envolvem importantes aspectos do processo psicoterapêutico. As disparidades de situações que ocorrem no contexto psicoterápico exigem um conhecimento aprofundado, que possibilite ao profissional a flexibilidade de aplicação da teoria à técnica, porém na concepção de Jung isto não basta para o trabalho analítico, as ideias e intuições que surgem do psicoterapeuta/analista tornam-se significativas e de relevante importância para a compreensão do processo como um todo. E, a supervisão clínica, torna-se, portanto, um aspecto significativo neste momento para ajudar a criar parâmetros éticos, norteando questões teóricas e, principalmente, contratransferênciais.

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Selene Regina Mazza – Psicóloga. Doutora em Ciências (FSP/USP). Pós-graduação em Psicologia Junguiana pela Universidade de Ribeirão Preto/IBEHE. Docente de cursos de Pós-graduação. Coordena grupos de estudos, assim como, ministra cursos nos seguintes temas: mitologia, psicologia e clínica junguiana. É psicoterapeuta e supervisora junguiana. Coautora do livro “Puer-senex: dinâmicas relacionais”, publicado pela Editora Vozes.



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