Pensamentos desordenados sobre o amor de Deus, por Simone Weil
Pensamentos desordenados sobre o amor de Deus reúne escritos de Simone Weil, filósofa e mística do século XX. Assim, há no livro reflexões e cartas dessa autora. Nestes escritos ela apresenta seus pensamentos sobre certos temas como amor e busca de Deus, vivencia cotidiana da fé, sofrimento e uma reflexão acerca dos sacramentos. Contudo, fulgura e perpassa a maioria deles a reflexão acerca do cristianismo e da experiência espiritual.
Nesta seleção, as meditações se iniciam com a reflexão acerca do conceito de satisfação da pessoa humana, na qual ela afirma que o ser humano nunca estará completamente satisfeito, pois sempre estará buscando algo. Satisfazer-se, portanto, não deve ser a preocupação máxima, mas sim ter clareza de onde está fixada a atenção. Assim, é preciso manter a atenção nas coisas puras e não nas coisas que comportam maldade.
Nesse sentido, segundo Simone Weil, a recitação sincera e desprendida do Pai-Nosso ou a participação consciente na Celebração Eucarística liberta aquele que reza do mal que carrega em si, pois nestes momentos o Cristo se faz presente e ele, sendo todo puro, purifica as realidades que com ele se encontram. Assim, a experiência desta mística é o de transformar horror em amor e a de ser transformada pelo próprio Deus. Essa ação transformadora é da competência de Deus e não acontece segundo o esforço humano, contudo a pessoa precisa desejar e querer.
Nos escritos é perceptível como, para ela, é importante uma relação profunda entre a experiência espiritual, o cotidiano e o trabalho. Deste modo, ela dirige longas linhas ao exemplo das realidades dos trabalhadores rurais e as páginas do Evangelho que falam desse tema. Para ela, o Cristo teve motivos para dar grande parte de seus ensinamentos num aspecto agrícola. Mas este é apenas um exemplo usado por ela, sua sugestão é que se pense na realidade das pessoas ao falar das realidades divinas, para que elas compreendam mais facilmente.
Nesta obra, através dos vários registros, Simone Weil trabalha a questão do amor de Deus. Assim, ela compreende que não só a Paixão de Cristo é um testemunho de amor, mas também o ato da Criação. Por fim, a questão da busca de Deus é evidenciada e ela ensina, a partir de sua experiência, que se deve estar constantemente aberto e esperando, voltado sempre para o alto e clamando por Deus, afim de que ela venha purificar e transformar. Ainda, é preciso lutar contra a parte medíocre da alma, que busca falsos deuses e que se contenta com um estado de paz, conforto e consolo que são passageiros.
Leonardo Henrique Agostinho, MSC
Religioso da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração,
formado em Filosofia e estudante de Teologia, na PUC-SP
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