O Diretório para a Catequese de 2020, por Pe. Abimar Moraes

O “Diretório para a Catequese” (DpC), publicado pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, é um texto oficial que tem sua origem remota numa precisa recomendação que o Concílio Vaticano II havia dado, no Decreto Christus Dominus, aos Bispos do mundo inteiro, sobre o seu múnus de ensinar (CD 13-14). Trata-se, portanto, de um complexo de princípios e de normas, de natureza teológica e metodológico-pastoral, com a função de orientar e coordenar a ação pastoral, no campo da catequese de toda a igreja católica apostólica romana.

Destinatários principais, mas não exclusivos, do “Diretório” são os bispos, as Conferências Episcopais e quantos tenham, nas dioceses e prelazias, a responsabilidade pela catequese. Em muitos países, inclusive no Brasil, o Diretório funciona como um quadro geral para a redação de diretórios nacionais particulares e, em alguns casos, até mesmo para catecismos nacionais. Assim aconteceu, em nossa realidade pastoral nacional. O Diretório de 1971 (DCG) serviu de base para a “Catequese Renovada” (1983) e o Diretório de 1997 (DGC) serviu de base para o “Diretório Nacional de Catequese” (2006). A distância entre o texto geral e o texto nacional, não significa que a catequese no Brasil tarda a dar respostas. O que observamos, na verdade, é que os “Diretórios” tendem a confirmar o que, em nossa catequese nacional, já está sendo operado pelas bases e referendado pela CNBB.

Não é possível, ainda, afirmar que a elaboração do DpC dará origem a um novo diretório nacional ou a revisão do atual. Contudo, é fácil perceber que o DpC escolhe temas e, até mesmo, expressões que já nos são familiares. Pensemos, por exemplo, no uso da expressão “iniciação à vida cristã” (DpC 421), mas sobretudo nos diversos pontos de convergência entre o DpC e a inspiração catecumenal, tal como ela vem sendo entendida no Brasil, isto é, como paradigma para toda ação de evangelizadora da comunidade.

Gostaríamos de destacar a atenção que o DpC dá à cultura digital (DpC 359-372). É preciso, portanto, individuar e qualificar catequistas com capacidade para evangelizar nesta cultura. É necessária uma estratégia pastoral integrada capaz de visualizar ações a curto, médio e longo prazo. A existência de um plano (ou política) comunicacional é uma medida eficaz para evitar, como tantas vezes acontece, a evangelização por entusiasmo, ou por impulso, na culturadigital. Uma possível lição, nesta pandemia do COVID-19 na qual nos encontramos, é que há espaço para a experiência de fé na cultura digital. Mas é preciso recordarmos, sempre, que a autêntica catequese não é fazer o Deus cristão estar nesta cultura, mas esforçar-se para servir o único e verdadeiro templo de Deus: o ser humano vivente.

A publicação do DpC representa um momento importante na realização do contínuo e constante processo de renovação da catequese, emerso no Vaticano II, e ainda em ato em nossos dias. A catequese precisa estar atenta às exigências da cultura contemporânea. O DpC apresenta-se, assim, como uma tentativa corajosa e equilibrada de enfrentar abertamente os problemas que esta cultura põe hoje à fé cristã. Os diálogos com a mentalidade científica (DpC 354-358), com a bioética (DpC 373-378), com o compromisso ecológico (DpC 381-384), com os pobres (DpC 385-388), dentre outros, são alguns dos apresentados à catequese hoje. O DpC entende que há uma profunda relação entre catequese e evangelização, oferecendo, assim, orientações gerais para a programação e a organização desta que sabemos ser uma das mais importantes ações pastorais em nossas comunidades.


Pe. Abimar Moraes é Doutor em Catequética pela Università Pontificia Salesiana/Roma, Professor de Teologia da PUC-Rio, Presidente do Conselho Diretor da ANPTECRE, membro de SCALA, SBCat e GREBICAT.