O Autismo em Meninas e Mulheres

Por: Sílvia Ester Orrú

 

Durante a história da humanidade, a ciência foi impactada pelos preceitos patriarcais, uma vez que, em sua maioria, eram os homens que falavam sobre tudo, nomeavam, decidiam e registravam tudo, inclusive em relação a: o que é ser mulher; como funcionam seus corpos e mentes; suas (in)capacidades cognitivas, físicas e psicológicas; como devem ser tratadas para controle de seus comportamentos; sexo e seu (des)prazer. Por consequência, no decurso de décadas, os consensos da comunidade médica e científica basearam-se de modo imperante em ideias e noções masculinas sobre o autismo, suscitando uma violenta negligência acerca das singularidades inerentes às mulheres com autismo em pesquisas e espaços da clínica.

O propósito desta obra é centrar as principais questões que permeiam a vida das meninas e mulheres com autismo a partir de estudos e pesquisas recentes que colaboram para uma compreensão mais acurada sobre como o autismo se manifesta no feminino, além da necessidade de se construir instrumentos e métodos para um diagnóstico diferencial com a finalidade de dirimir equívocos e negligências para com elas.

A diferença e a interseccionalidade foram abraçadas com afeto carinhoso, pois ambas são as fronteiras da constituição subjetiva de cada mulher, de maneira que a manifestação do autismo se repete por todo o planeta, mas as meninas e mulheres são únicas, são singulares ao compasso que complexas, elas nunca se repetem, mas se encontram conectadas por condições múltiplas que as tornam mais fortes quando unidas em luta por suas vidas, por seus direitos, por seus espaços, por seu protagonismo e lugar de fala.

Além de trazer informações atuais sobre o diagnóstico e a prevalência do autismo no feminino, abordei temas sensíveis às meninas e às mulheres com autismo que devem ser acolhidos pelos familiares, pelos profissionais da educação e da saúde, bem como por gestores em seus espaços de trabalho, a saber: a valorização do hiperfoco como potência, a sensibilidade sensorial como característica fortemente presente, a camuflagem social e a compensação como gatilhos de crises que podem ser evitados pelo acolhimento da pessoa em sua forma única e subjetiva de ser, o esgotamento “autista” e seus impactos, as percepções das mulheres sobre sexo e sexualidade, a presença da diversidade sexual e de gênero, a maternidade e a maternagem atravessadas pelo autismo, e sobre a importância da autoaceitação e do amor que cada uma deve ter por si mesma.

As pesquisas sobre como o autismo impacta o feminino estão apenas principiando e há uma longa jornada de inquietações e desafios por vir.

Meu desejo é que este livro possa cooperar para a ampliação do conhecimento sobre esse tema tão necessário em nossa contemporaneidade.

 

 

 

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