Nomes, nomes…
Demorei a me acostumar com esse nome. Aliás, acho que as crianças deveriam ter nome nenhum e, quando crescessem um pouco, poderiam decidir o nome que quisessem. Afinal, recaem sobre os pais o peso enorme da responsabilidade pela escolha de um nome que outra pessoa é quem vai carregar pelo resto da vida.
Eu me chamo Solimar. A essa altura talvez você já saiba. Não é possível que não tenha lido a capa de algum livro meu. (Não, na verdade, sei que é possível. Muita gente já comprou meu livro pelo título, não por meu nome, eu sei!). A gente vai lá, vê o título do livro, nem lê quem é o autor e começa a folhear para ver se tem algo que chame a atenção. Então, vamos às apresentações. Eu me chamo Solimar.
Eu sou um exemplo de uma escolha não tão péssima (sim, já vi piores), mas que poderia muito bem ter sido uma escolha melhor, não é? Sofri muito na época da escola.
– Qual o seu nome?
– Jaqueline.
– Andressa.
– Luciana
– Ana.
– Julia.
– Solimar.
– Hã??
Ou ainda pior, acho que estava na terceira ou quarta série, quando estudamos nomes de rios do Brasil. Sim, claro, tinha que ter um bendito rio chamado Solimões. A turma toda riu. As crianças sabem muito bem como ser perversas, vou avisando.
– Solimões, Solimar! Solimar, Solimões! – e muitas risadas.
Eu mantive a compostura. E respondi:
– Pelo menos meu nome lembra algo famoso. – E, por dentro, ficava imaginando onde eu poderia ir para mudar meu nome.
Os professores nunca sabiam, na primeira vez, se o nome era masculino ou feminino. E isso já causou alguns constrangimentos. Ah, sei que o nome é um nome próprio comum de dois gêneros, se é que posso classifica-lo assim. Tem homem, mulher e seja lá o que for mais com esse nome. Mas, convenhamos, quando você tem quinze anos, no auge dos momentos de paquera com meninos da sua turma, a última coisa que você quer é que o professor chegue à sala, como aconteceu realmente comigo, e peça para o aluno Solimar se levantar.
Pronto, nunca mais consegui flertar com ninguém. Os meninos ficaram na dúvida se eu era hermafrodita, transexual ou o quê. Acabou minha vida amorosa sem nem mesmo começar.
E, por falar em começar, tudo começou porque minha irmã mais velha se chama Marisol. Sou segunda filha. Você acha que os pais têm tempo no segundo filho para ficar pensando em nome bonito. Nada. É roda de cachaça com tios, parentes e vizinhos, com direito a aposta se era menino ou menina e tudo – até porque naquela época não havia essa coisa de ultrassonografia que nem hoje.
Pensaram em vários nomes: Mariterra, Terralua, Luamar, Marilua, Luaestrela, e todas as combinações que você possa imaginar. Até que alguém com mais juízo, ou mais cachaça nas ideias, não sei dizer, resolveu o dilema:
– Ué, a primeira não é Marisol? É só inverter: Solimar. E pronto.
Ganhou esse. Primeiro porque servia para menino ou menina que viesse. Segundo, porque realmente sou o inverso da minha irmã Marisol. Ela ganhou no nome. Eu, na cara de pau.
Os nomes, apesar de tudo, são presentes. É tão bom quando alguém que pouco vemos passa por nós e nos cumprimenta pelo nome. Ficamos imaginando que a pessoa se deu ao trabalho de memorizar nosso nome. Que ato de gentileza!
De igual maneira, podemos presentear nossos alunos, esforçando-nos por chamá-los pelo nome. É uma das 50 atitudes do professor de sucesso. Ao invés da tradicional chamada por número, use os nomes. Quando o aluno perguntar algo ou fizer algum comentário, use seu nome para agradecer, parabenizar ou seja lá o que for. Certifique-se de pronunciar corretamente.
Alguns nomes até podem ser presentes de grego. Mas, todos se sentem agraciados quando alguém as presenteia, chamando-as pelo nome. Presenteie mais.
Conta pra mim: qual é seu nome? E qual é a história do seu nome? [aliás, essa é uma dinâmica do livro Escrita Criativa – escrevendo em sala de aula e publicando na web que rende muitas risadas nas nossas aulas. Já fica a dica].
Solimar Silva – é doutora em Linguística Aplicada e professora há quase 25 anos. Autora de diversos livres, entre eles: 50 Atitudes do Professor de Sucesso, Avaliações mais criativas e Oficina de escrita criativa – escrevendo na sala de aula e publicando na web.
Siga-me no Instagram: @solimarsilva.pro
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