Cuidar da Casa Comum - Pistas para protelar o fim do mundo
Por: Leonardo Boff
Como nunca antes na história, a humanidade está se dando conta de que pode desaparecer. Durante mais de 300 anos temos explorado de forma exasperada e irresponsável todos os bens e serviços da natureza fundamentais para garantir a nossa vida e também a da natureza. O objetivo era o desenvolvimento ilimitado e o enriquecimento das pessoas e das empresas.
Entretanto temos perdido o senso da medida. Atualmente precisamos de mais de uma Terra e meia para atender ao consumo especialmente daquelas populações dos países ricos, deixando na carência grande parte da Humanidade.
A partir dos anos de 1970 ficou claro para os cientistas que o planeta Terra não é simplesmente um baú de recursos aproveitáveis. A Terra é viva, um Super Organismo vivo que de forma sistêmica articula o físico, o químico e o ecológico de forma tão sábia que ela se mantém viva e ainda continua a produzir toda espécie de seres vivos.
Ocorre que o processo industrialista implantado a partir do século XVII e XVIII, desencadeou uma corrida acelerada de exploração de todos os bens e serviços em função da acumulação de alguns à custa da marginalização das grandes maiorias da Humanidade condenadas à pobreza com suas sequelas, a fome, a doença, as favelas e a degradação do meio-ambiente. A exploração da natureza foi tão profunda que devastou os ecossistemas e quase esvaziou a dispensa da Terra dentro da qual estava tudo o que precisamos para viver e sobreviver. Machucamos e ferimos a Mãe Terra.
Ela, por ser viva, reagiu: mandou-nos vírus como o coronavírus, o ebola, a zika, a dengue; deslanchou eventos extremos: de um lado secas severas e de outro nevascas antes inimagináveis; junto a isso, aterradoras enchentes que destruíram centenas de cidades junto aos rios, como tem acontecido em maio de 2024 no Rio Grande do Sul, deixando milhares de pessoas desabrigadas e muitas desaparecidas ou mortas. São todos sinais de que a Terra está doente e clama por respeito a seus direitos de Mãe.
O pior de tudo foi a mudança climática. O clima da Terra subiu alguns graus, chegando em quase todo mundo a 40 graus centígrados. Em alguns lugares na África e na Ásia a 50 graus. Esse aquecimento liberou todo tipo de doenças. Provavelmente o clima vai se estabilizar por volta de 38 a 40 graus. Muitos organismos da natureza e muitas pessoas, crianças e idosos, não conseguem se adaptar e correm grande risco de vida ou simplesmente morrem.
A continuar com a exploração das riquezas naturais da Terra sem a justa medida, visando apenas as vantagens econômicas de alguns países e de grupos de super ricos, ela não aguentará. Pode querer livrar-se do ser mais agressivo e irresponsável existente que é o ser humano, homem e mulher. Há sérios riscos, apontados pela ciência mais séria, que podemos realmente desaparecer.
Ou mudamos nossa relação para com a natureza e Terra, mais amigável e colaborativa e se não fizermos a travessia da compreensão do ser humano como senhor e dono de tudo para ser irmão e irmã de todos os seres que habitam a mesma Casa Comum, especialmente entre os próprios humanos, ou então estaremos cavando a nossa própria sepultura.
Ninguém quer essa tragédia. Por isso, são oferecidas neste livro reflexões e pistas para protelarmos o fim do mundo e garantir a continuidade da vida, de nossa civilização e de cada um de nós.
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