Caminhos de diálogo para uma Igreja em saída

Por: Celso Pinto Carias

Em boa hora a Editora Vozes apresenta o livro, “Caminhos de diálogo para uma Igreja em saída” do teólogo Elias Wolff. Em boa hora porque o caminho sinodal desejado pelo Papa Francisco com a convocação do Sínodo com o lema “Comunhão, participação e Missão”, a ser encerrado em 2024, mas que abre um processo iniciado pelo Concílio Vaticano II e que deve ser continuado, precisa ganhar corpo na Igreja em várias direções, entre as quais no diálogo ecumênico e inter-religioso. E Elias Wolf nos oferece um fundamento bem construído através desta obra. 

Wolff, teólogo da PUC-PR, apresenta o caminho de sua obra em duas partes. Na primeira parte ele demonstra, teológica e historicamente, como o caminho sinodal é constitutivo da Igreja e nela, a dimensão dialogal é estrutural. Seguindo a necessidade de uma “Igreja em saída” na perspectiva do Papa Francisco, ele recolhe vários aspectos de fundamental importância para seguir tal perspectiva. Na segunda parte ele amplia o horizonte apresentando a dimensão do encontro das religiões e das culturas como um eixo central e irrenunciável do Concílio Vaticano II.

Na primeira parte Wolff vai colocando a coerência teológica e, consequentemente, eclesiológica, das afirmações de Francisco. Em determinado momento ele diz: “O redimensionamento do pensamento dogmático, possibilitado, pelo retorno às fontes e uma devida distinção entre conteúdo e forma de expressar a fé e pela hierarquia das verdades, mostra a consciência de que os dogmas têm uma história processual” (p. 35), ou seja, não é possível permanecer em uma autorreferencialidade. 

Tal redimensionamento eclesiológico tem implicações ecumênicas positivas e permite acolher o caminho do cristianismo com mais convergência do que divergência, e que deve fazer com que as estruturas centrais da Igreja se coloquem a serviço do ecumenismo. Assim, seja o Ministério Petrino, seja a estrutura paroquial mais elementar, deve se reconfigurar para atender a necessidade evangélica do diálogo, como quis o Concílio Vaticano II. 

Na segunda parte, mais relacionada com os desafios hodiernos, Wolff vai pontuando a necessidade inegociável do reconhecimento das religiões como uma dimensão humana do encontro e não da disputa. Demonstra que na eclesiologia do Concílio, há um princípio pluralista que ainda precisa ser desdobrado. A verdadeira experiência religiosa de Deus não se contrapõe ao humano, e, portanto, tudo que é humano pode ser ponte para encontrar o próprio Deus. Assim sendo, em uma Igreja em saída, o diálogo inter-religioso deve ser feito em quatro dimensões: sociocultural, teológica, espiritual e missionária. 

Cada religião em sua verdade, é uma possibilidade para alargar o horizonte do encontro com Deus. Por isso, como tanto tem buscado o Papa Francisco, a “cultura do encontro” é um processo no qual todos os cristãos e todas as religiões devem se colocar. A kênonis, o sair de si, o se esvaziar, como fez o próprio Cristo, deve ser uma característica essencial da Igreja, possibilitando assim sair da arrogância estrutural para o acolhimento, como o próprio Deus em Jesus Cristo. Uma “cultura do diálogo” precisa ser cada vez mais constitutiva. Um verdadeiro pacto educacional global que reúna tudo aquilo que é bom e justo. 

Wolff conclui, acertadamente, que para alcançar este projeto tão fundamental para o mundo de hoje, faz-se necessário um repensamento teológico do universo semântico de categorias como “revelação”, “inspiração”, “mediação salvífica”, “plenitude da salvação”, “Sagradas Escrituras”, entre outras. Demonstra a evidente sintonia de Francisco com o Vaticano II e que “A meta de unir as pessoas cristãs em ‘um só Senhor, uma só fé, um só bastismo’ (Ef 4,5) é um instrumento para que todos os povos sejam Fratelli Tutti”. Tal caminho não será fácil, Wolff é consciente disso, mas extremamente necessário. 

Como afirma Gilles Routhier, da Université Laval, Quebec, no posfácil, o livro todo gira em torno de um conceito central: o diálogo, que foi também um conceito chave do Concílio Vaticano II, onde aparece por 28 vezes, enquanto em nos outros 20 concílios antes deste, aparece apenas duas vezes. 

 

 

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Celso Pinto Carias  é doutor em Teologia pela PUC-Rio, assessor das CEBs do Brasil, Ampliada Nacional e do Setor CEBs da CNBB da Comissão Episcopal para o laicato. Acumula uma série de artigos e capítulos em livros sobre seu caminho pastoral desde a juventude.