A Nuvem do Não-Saber: uma obra de espiritualidade

Escrito por um anônimo, místico e teólogo, do século XIV, “A Nuvem do Não-Saber” é uma obra espiritual de grande valor e reconhecimento. Direcionada num primeiro momento a um jovem chamado à vida contemplativa, esta obra torna-se a mais lida em seu século de publicação. Especula-se que o Doutor Místico, isto é, João da Cruz teve contato com ela e que influenciou muitos outros autores contemporâneos. Nestes escritos percebe-se uma aproximação com a meditação do zen, que procura a renúncia de tudo. Contudo, sua raiz epistemológica é a experiência apofática, mesmo que não se fale diretamente, entretanto, a linguagem e os métodos apresentados levam a perceber a semelhança, principalmente quando se orienta ao discípulo que permaneça na escuridão e na nuvem do esquecimento.

Deste modo, essa obra é um tratado sobre contemplação. Por meio dela, isto é, dos conselhos e orientações descritos, a alma se unirá a Deus. Para isso, aconselha-se a elevar o coração para Deus, com grande impulso de amor e buscando-o acima de tudo, com retidão e convicção. Esquecer todas as coisas criadas, soterrando-as e esquecendo-as, faz parte desse processo de elevação e união. Este processo é purificador e faz crescer na virtude.

O autor orienta àqueles que buscam trilhar esse caminho, que primeiro conheçam-se a si mesmos, lutando para chegar a uma reta consciência de si. Neste exercício se encontra e preserva a humildade, virtude propícia aos que desejam unir-se a Deus. Aconselha-se então a voltar o olhar para a excelência de Deus e não para a própria miséria. Outra orientação é que ninguém se entregue a essa busca, ou seja, a esse trabalho espiritual, sem antes fazer secar em si as raízes do pecado.

Por fim, em “A Nuvem do Não-Saber” explica-se que esse estado de vida é fruto da Graça de Deus, que vem em auxílio da natureza. Assim, unir-se a Deus é a meta dos que buscam a contemplação; essa união é de amor e de acordo de vontades. Deve-se, portanto, existir esforço por parte da pessoa; ou seja, ela deve buscar esquecer tudo, tornar-se cega e eliminar todo desejo de saber; sua única intenção e meta deve ser Deus; por isso, apenas Deus deve operar na inteligência e na vontade, e nada mais. Na contemplação a alma não se detém em virtudes ou vícios, pois esse estado exige tranquilidade e disposição da alma e ela superou tudo em Deus.


Leonardo Henrique Agostinho, MSC
Religioso da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração,

formado em Filosofia e estudante de Teologia, na PUC-SP.