Thomas Merton e a teologia do verdadeiro eu
Por: Pe. Nilton Cesar Boni, cmf
Tive a graça de ler o livro “Thomas Merton e a teologia do verdadeiro eu” de Nilson Perissé nos momentos de minha oração pessoal. Me deparei com um conteúdo atual, oportuno, intenso, encantador, de uma riqueza espetacular para a formação da personalidade. A vida de Thomas Merton é por si mesma uma dádiva de transformação em Deus, um exemplo de humanização e divinização, um mistério de encontro e alegria de quem deixou tudo para ter o Tudo. Particularmente me identifiquei com a busca do eu dentro de uma espiritualidade de base que nos coloca diante de escolhas na vida e exige uma resposta madura em vistas da liberdade. Ligado ao autoconhecimento, o livro merece destaque para ajudar qualquer pessoa a se redescobrir ou desvelar seu próprio sentido de vida. Leitura fácil, clara e objetiva que possibilita refletir sobre o essencial.
Me permitam destacar algumas partes do livro para estimular outros a buscar essa fonte inesgotável de integração desde a ótica do sagrado, desde um homem que entendeu a existência em Deus.
“O verdadeiro eu, é a pessoa que somos perante Deus, a pessoa à qual estamos destinados a ser”, é tomar consciência do Deus que nos habita, pois quanto mais íntimo e conectado com Ele, nos tornamos luzes e entendemos nosso propósito de vida. Quanto mais distante do centro, mais perdidos e confusos nos tornamos.
“A contemplação, via de saída do falso eu e abertura para o encontro com o verdadeiro eu e com Deus” nos insere na realidade sem alienação, sem máscaras, tomados pelo compromisso de mergulhar na vida sem distrações, conscientes de que somos parte de Deus e de um projeto de transfiguração interior. Diante de Deus nos vemos como num espelho e nos confrontamos com Ele, sem fugas. Neste sentido, a oração como percurso eleva o nosso coração a Deus focando nossa atenção na vontade do Criador.
“O eu espiritual e contemplativo não busca realização; antes, está contente em ser; e em seu ser ele se realiza, pois está enraizado em Deus”. Compreender essa graça nos torna mais leves e altruístas. Desvenda o segredo de uma busca muitas vezes vã apoiada no materialismo passageiro. A felicidade é o encontro com a verdade, com nossa natureza limpa, dotada de amor. Só o amor torna possível a vivência integral de cada pessoa inserida no tempo do mundo e no tempo de Deus.
Por fim, diria que o livro abre caminhos para enxergarmos, desde a ótica do transcendente, o que precisamos fazer para sermos mais proativos na formação crítica do autoconhecimento. Descuidar do verdadeiro eu é negligenciar os dons do Espírito que nos envolve. A bondade que nos habita (o ponto virgem) precisa reflorescer. Perde-se tempo e energia nas tramas mundanas ofuscando as gentilezas que poderiam tornar o mundo mais pleno. A busca do verdadeiro eu atravessa a morte para contemplar a face do Altíssimo ao lado do Ressuscitado. “Cristo nos chama para que despertemos do nosso sono e retornemos de nosso exílio”. N’Ele nossa dignidade será restabelecida e poderemos enfim, descansar nos braços ternos de sua compaixão. Encontrar o verdadeiro eu é levar em consideração o caminho da cruz, das renúncias e dos sacrifícios que desmontam as hipocrisias que vamos colocando na bagagem e deformam nosso caráter. A cruz é desconstrução das falácias para dar lugar Àquele que nos sacia com sua palavra bem-aventurada.
Minha gratidão ao Nilson Perissé por este presente e por fazer a diferença tocando as almas com o testemunho de sua fé, esperança e caridade. Incentivo o público a adquirir esta pérola e fazer grupos de reflexão na família, igreja, comunidades, escolas para partilhar as riquezas recebidas e ter outra postura diante da sociedade da fuga. Quando buscamos juntos quem somos, o caminho se torna mais acolhedor e inédito, pois a comunhão nos une. Boa leitura. Muitas bênçãos e paz!
Pe. Nilton Cesar Boni, cmf, é missionário Filho do Imaculado Coração de Maria – Claretiano, autor de “O creio dos cristãos: a Profissão de fé Meditada” e “Orações Marianas Meditadas”.
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