Nova obra de Alfonso García Rubio aborda a experiência cristã

A experiência cristã de Deus é a questão central do livro “A Caminho da Maturidade na Experiência de Deus“. O autor, Alfonso García Rubio, professor emérito da PUC-Rio e durante muitos anos Prof. Titular de Antropologia Teológica, na mesma instituição, está guiado por uma visão integrada do ser humano. Nessa perspectiva, as dimensões constitutivas da pessoa humana são consideradas em íntima conexão umas com as outras, influenciando-se entre si.

O autor parte da constatação do fato de  que se encontra muito espalhada  nas pessoas de Igreja  uma relação com Deus interesseira que  o manipula e instrumentaliza a serviço dos interesses do crente. Também  não é infrequente a  visão de um Deus justiceiro  e sempre disposto a castigar. Em ambos os casos, fica adulterada a revelação que Jesus nos faz do   Deus do amor gratuito. Para enfrentar o desafio que esta constatação suscita para a pastoral, o ator utiliza a ajuda das ciências humanas,  especialmente da Psicologia profunda. de orientação junguiana, da Psicanálise  e da Psicologia. Assim fazendo, o autor se inspira no trabalho de grandes mestres do passado em  teologia e na espiritualidade, que souberam utilizar criticamente a mediação da filosofia e de cultura de sua época para expressar a fé cristã  de maneira que fosse significativa para as pessoas que pensavam e viviam naquela determinada cultura.

Com os elementos tomados, criticamente, dessas ciências  o autor procura iluminar, do ponto de vista psíquico, o que pode haver  de patológico nessas atitudes de fé. Ao mesmo temo, apresenta passos fundamentais necessários para percorrer o caminho que leva à maturidade na experiência de Deus.

Um passo prévio, fundamental,  para uma relação amadurecida com Deus, consiste no reconhecimento e na aceitação de que a pessoa,- toda pessoa e toda coletividade-é  internamente dividida e ambígua.. Aqui o autor utiliza como mediação da sua reflexão o que a escola junguiana da Psicologia Profunda conhece como a  “sombra”,  existente em todo ser humano e em todas as coletividades. O reconhecimento é a aceitação da realidade da nossa ambiguidade radical, superando a tentação de se iludir e de mentir a respeito da própria realidade pessoal, comunitária, eclesial e  social,  é pressuposto básico para poder viver a conversão no sentido  evangélico.

A seguir,  o autor nos lembra da necessidade que toda criança tem de superar adequadamente as duas primeiras fases de sua evolução psico-afetiva, a saber,  a fase da relação com a figura materna e a fase  da relação com a figura paterna. Essas superações são indispensáveis  para o amadurecimento da afetividade da criança. Tudo isto é muito conhecido devido ao  influxo da  psicanalise. O interessante, aqui,  é a aplicação que o autor  faz desse processo psico-afetivo da criança ao âmbito religioso da experiência na relação com Deus. Assim, o narcisismo radical  do bebê, que se considera o umbigo do mundo e que deseja continuar  fusionado com a figura materna, na primeira fase da sua evolução afetiva, está presente na experiência religiosa, quando o fiel manipula e instrumentaliza a relação com um Deus “quebra-galho” ou “tapa-buraco”, para satisfazer os interesses da  pessoa religiosa.

Igualmente  importante é que a criança supere as  relações infantis com o pai, fantasiado como onipotente, como a  autoridade que impões normas e  leis, pois essa criança, na sua religiosidade, tenderá a se relacionar com um Deus legislador, juiz severo, castigador, dominador universal… Ficar  prisioneiro das figura materna ou paternas, situações infantis  regressivas, levará provavelmente  essa pessoa a viver  com Deus uma relação, igualmente regressiva, voltada para o  passado e, assim, patológica.

Fundamentado na experiência vivida por Jesus de Nazaré, o autor presta atenção especial às características próprias de uma experiência amadurecida com Deus.

A continuação, o autor focaliza, como uma resposta ao desafio da violência, oque dever ser uma experiência comunitária sadia, que, ao mesmo tempo, constitui um ambiente adequado para o amadurecimento da relação com um Deus que é comunidade Trinitária.

Por último, é abordado o tema da culpabilidade, pois o sentimento de culpa doentio é um  obstáculo formidável para o amadurecimento na experiência do Deus cristão. Ajudado  aqui também pela psicanálise,  o autor explica  em que consiste um sentimento de culpa sadio, e necessário,  e um sentimento doentio.

Podemos dizer que neste trabalho, o autor faz uma verdadeira limpeza do terreno, mostrando obstáculos que dificultam ou impedem o desabrochar de uma relação amadurecida com Deus. E, ao mesmo tempo, indica passos  fundamentais do Caminho que deverá ser percorrido para viver essa experiência amadurecida.

A obra pode ser de grande ajuda para aqueles cristãos que têm a coragem necessária para se encontrar com sua realidade interior e para rever a qualidade da própria fé. E de maneira especial, podem tirar muito proveito desta obra aqueles e aquelas que trabalham na formação em seminários e noviciados, e as pessoas que têm responsabilidade mais direta na orientação do povo cristão: padres, religiosas e religiosos, coordenadores(as) de movimentos eclesiais, catequistas, professores, orientadores de círculos bíblicos e de CEBs…

Você se sente interpelado/a a fazer este caminho? O livro “A caminho da maturidade na experiência de Deus”, pode ajuda-lo/a nessa caminhada em direção à maturidade humana e cristã.

Sobre o autor:

Prof.-Dr. Pe. Alfonso García Rubio, sacerdote diocesano, nascido na Espanha em 1934 e radicado no Brasil desde 1959. Doutor em Teologia Sistemática pela Universidade Gregoriana (Roma). Co-fundador da Faculdade de Teologia da PUC-Rio em 1968. Nela tem ministrado cursos de Teologia na Graduação e na Pós-graduação, especialmente no âmbito da Cristologia e da Antropologia Teológica, com diversas publicações nessas áreas. Exerceu também as funções de coordenador dos cursos de Graduação e Pós-graduação e de diretor do Departamento de Teologia da Puc-Rio. Na década de 1990 atuou como co-fundador do Curso de Teologia a Distância, no qual permanece como professor titular de Cristologia e de Antropologia. Em seu intenso magistério teológico destaca-se a orientação de numerosas dissertações e teses doutorais. Seu labor teológico e sua pesquisa têm estado sempre vinculados ao trabalho pastoral, sobretudo em ambientes populares. Ministra até hoje cursos intensivos de atualização teológica, além de orientar retiros e prestar assessorias para sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, por todo o Brasil e em outros países da América Latina. Atualmente é professor emérito da PUC-Rio.