Fioretti de Santa Clara

Por: Frei Gilberto da Silva

 

Em termos contemporâneos, Clara de Assis é uma mulher “empoderada”. Foi firme em suas decisões sem perder a delicadeza e a beleza feminina.  Uma mulher que desde a infância foi preparada pelo sistema feudal para a vida adulta, e trouxe consigo a elegância, a beleza, a autoestima, a inteligência, a força, a simpatia e ousadia nas decisões.

Clara de Assis não é a única mulher a viver no período medieval que demostra sua força, neste cenário encontramos: Hildegarde de Binge, Felipa Mareri, Diana de Andraló, Inês de Praga, Lugarda de Tongeren, Isabel de Turíngia, Rosa de Viterbo, Margarida de Cortona, Angela de Folinho, e tantas outras. Mulheres extraordinárias, virgens ou viúvas, servas ou nobres, que se dedicaram ao encontro com Cristo e como consequência um amor incondicional a caridade com os pobres e necessitados.     

Frei José António Correia Pereira, ao escrever os Fioretti de Santa Clara, oferece a família franciscana, aos amigos e simpatizantes de Clara de Assis, passagens de sua vida, sua infância, seu processo de discernimento. Oferece também informações de sua amizade com Frei Francisco de Assis, sua vida no mosteiro de São Damião com suas irmãs, e os acontecimentos extraordinários na hora de sua morte.

Nos capítulos de 30 a 34 encontramos aspectos curiosos da vida de Santa Clara, por exemplo, como ela se tornou a padroeira da televisão. Como se tornou a padroeira dos casais com dificuldade de ter filhos, como se tornou a padroeira das bordadeiras e fiadeiras, de outras profissões que tem Clara como padroeira, e os símbolos iconográficos que representam Santa Clara. 

Entre tantos títulos atribuídos a Dama Pobre de Assis, ao lermos sua vida com os óculos contemporâneos, atribuiríamos a ela o título de Padroeira da mulher do século XXI.

Ao escrever os Fioretti de Santa Clara, o autor utilizou como fontes biográficas antigas, a Regra escrita por Clara, suas cartas e o seu processo de canonização. Em todos os textos é possível reconhecer a vitalidade e a independência de uma mulher que rompe com alguns padrões de sua época. Por exemplo, ela foi a primeira a escrever a Regra de Vida para outras mulheres e aprovada pelo Papa.

Nos Fioretti, fica claro o amor e a amizade respeitosa de Clara por Francisco. Ela é uma plantinha de Frei Francisco, mas isso não significa que fosse frágil ou indecisa. Clara seguirá Cristo como Francisco. Não podendo ter uma vida de pregação itinerante, ela fez de São Damião e de sua vida a morada de Deus. Clara, a mulher franciscana, reza por Frei Francisco e seus irmãos. Clara e suas irmãs são cuidadas e amadas pelos frades.

Ao lermos a história de Frei Francisco de Assis, rapidamente reconhecemos nele um seguidor do Cristo pobre. E não poderia ser de outra forma, a flor mais linda, perfumada e encantadora do jardim franciscano, é Clara com sua beleza. A dama pobre de Assis desenvolveu sua interioridade, a sua mulher interior. É neste cenário que se reconhece quem habita no interior de Clara e qual modelo de religiosa e de mulher ela escolheu.

Clara é apaixonada por Cristo, pobre, humilde e crucificado. O seu encontro ocorria pela vida de oração, cuidado e serviço dedicado às irmãs de São Damião. Sua força interior mostra uma grande liberdade face à vida e aos fatos. Clara é firme em suas decisões, por exemplo, quando diz ao Papa Gregório que não aceita outra regra que não lhe desse o direito de ser completamente pobre.

Os Fioretti de Santa Clara falam sem sombra de dúvidas do franciscanismo feminino, e como as mulheres, mesmo em um contexto predominantemente masculino, romperam certos padrões. O livro também apresenta Clara e sua vida como uma mulher que traz novidades que perduram no tempo. Clara é a mãe do franciscanismo e sua fecunda maternidade foi vivida com Cristo, seu esposo, no claustro de São Damião, com suas filhas e no cuidado dos frades menores.

Clara de Assis é uma mulher, uma santa a ser estudada, admirada e seguida. Ler os Fioretii de Santa Clara será um caminho durante o qual redescobrirás o valor da mulher e sua santidade na Igreja e seu papel no universo religioso e no mundo. Boa leitura.   

 

 

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Frei Gilberto da Silva, OFM, possui graduação em Filosofia pela Faculdade São Boaventura (Unifae), Curitiba/PR. É graduado em Teologia pelo Instituto Teológico Franciscano (ITF), Petrópolis/RJ. Possui pós-graduação em Espiritualidade Ecologia e Educação, pelo ITF, Petrópolis. Foi diretor pedagógico na Escola de ensino médio São Francisco de Assis, em Ituporanga/SC (2012-2015). Fez o Mestrado em Teologia Espiritual na Pontifícia Universidade "Antonianum" (2017), em Roma. É doutor em Teologia pela mesma Universidade em 2022. Publicou sua tese em 09 fevereiro de 2022, com o título: Frei Constantino Koser e o aggiornamento conciliar na Ordem dos Frades Menores: um caminho a ser descoberto. "Um estudo introdutório da obra Meditações, com a edição do ano de 1967". Tem experiência na área de Teologia, com ênfase em Teologia Espiritual, Franciscanismo e Ecologia Integral. Acompanhou em Roma o Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia e esteve presente no pacto das Catacumbas pela casa Comum (Catacumba Santa Domitila - 20 de outubro de 2019).