Dicionário dos símbolos

Por: Eliseu Wisniewski

 

Desde a pré-história, o ser humano tem sido um criador de símbolos, os quais constituem uma ponte para suas origens, o cosmo e o destino. A experiência simbólica toca profundamente o ser humano e permite-lhe abrir-se, contrair uma aliança, descobrir o mistério e a contemplação.

Com certeza, os símbolos falam. Mas, afinal, o que dizem os símbolos? Uma resposta para esta abrangente pergunta é dada no Dicionário dos símbolos (Vozes, 2024, 456 páginas), organizado por Mircea Eliade e Ioan Petru Couliano.

Mircea Eliade (1907-1986) foi historiador das religiões, filósofo e romancista romeno. É amplamente conhecido por suas contribuições à história das religiões e ao estudo do simbolismo religioso. Entre as suas principais obras estão O mito do eterno retorno, Tratado de história das religiões e O sagrado e o profano. Seus estudos e publicações influenciaram profundamente o campo da história das religiões, fazendo com que seu nome se tornasse relevante no estudo das ciências da religião e seu legado continuasse a ser uma referência essencial para estudiosos e leitores interessados na compreensão do fenômeno religioso.

Por sua vez, Ioan Petru Couliano (1950-1991) foi destacado historiador das religiões. É conhecido por seu trabalho inovador no campo da história das religiões, com foco em gnose, magia renascentista e misticismo. Em 1986, ele ingressou na Universidade de Chicago, onde colaborou estreitamente com Mircea Eliade, a profundando suas pesquisas sobre a interseção entre religião, cultura e sociedade. Entre as suas principais obras estão Eros e magia no Renascimento, Fora deste mundo: viagens a outros mundos de Gilgamesh a Albert Einsten e a Árvore da gnose: mitologia gnóstica do cristianismo primitivo no niilismo moderno. Couliano também contribuiu para diversas publicações acadêmicas e foi um defensor da liberdade acadêmica e dos direitos humanos.

Os 98 verbetes deste dicionário foram retirados do vasto acervo de 17 volumes da Enciclopédia das Religiões, conduzida por Mircea Eliade em colaboração com Ioan P. Couliano, e elaboradas pelos maiores especialistas internacionais. 

O Dicionário contém, exclusivamente, verbetes temáticos e técnicos escritos numa linguagem clara e acessível a todos os públicos. Cada verbete atento aos detalhes acadêmicos carrega não somente as perspectivas particulares de cada autor/a, bem como seus estilos próprios de estruturar as ideias e redigi-las textualmente. Ao final de cada verbete, é sugerida uma bibliografia específica do termo.

Os organizadores observam que por séculos, os símbolos foram vividos como portadores de um significado capaz de ultrapassar os limites humanos e se projetar em uma presença que se colocava como outra. Ainda segundo Eliade e Couliano  descobre-se assim que até mesmo os objetos mais usuais – uma chave, um tecido, um espelho, uma joia – ou os gestos mais comuns como comer, dormir, oferecer um presente, brincar, não são aspectos triviais de nossa vida: na história da humanidade, foram carregados de um sentido que podemos ter esquecido, mas que atesta como a busca por significado está impressa nas profundezas do desejo humano.

As grandes articulações dessa busca são traçadas no ensaio do historiador das religiões Jacques Vidal, que introduz a obra (p. 9-19) e, lembra entre outras coisas que o símbolo é um elemento especificamente humano que convida à abertura, à aliança, à descoberta do mistério e à sua contemplação.

Naturalmente este dicionário não se destina à leitura contínua, mas sim à consulta de gosto ou necessidade. Leitores de todos os tipos encontrarão aqui uma riqueza de informações sobre símbolos e sua interação com outros aspectos da cultura humana. Dicionário dos símbolos é obra substancial para descobrir e mergulhar no fascinante mundo dos símbolos.

 


Eliseu Wisniewski é presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos), Província do Sul e mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).