Aurora Ferreira Roberto: “A arte é um dos caminhos para as mudanças na educação”

Aurora Ferreira Roberto é professora de Arte Educação, lecionou durante anos no Curso de Formação de Professores do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro.

A arte é um  dos caminhos para as mudanças na educação. Com a arte trabalhamos a sensibilidade e a possibilidade das relações criativas com o mundo. Assim, o trabalho do professor com a criança deve estar sempre vinculado às atividades lúdicas e artísticas, o que vai tornar a aprendizagem mais prazerosa para ela.

As atividades com histórias estimulam a imaginação e a criatividade da criança ao mesmo tempo em que vai explorar novos conhecimentos ao despertar a observação, atenção. Também vai organizar ideias e pensamentos, ampliar o vocabulário, enriquecer experiências, além de proporcionar liberdade de expressão e desenvolver a sociabilidade.

Para as crianças as histórias ilustradas são mais interessantes: gravuras, desenhos, bonecos, fantoches, dobraduras. Música, dramatização, artes visuais, são de grande valia nessa atividade, uma vez que  as histórias cantadas e dramatizadas encantam as crianças.

A criança desde pequena dramatiza, ela associa a realidade à fantasia e com freqüência identifica-se com o personagem. Isso acontece  quando a criança brinca no mundo imaginário das histórias. Assim, nas histórias infantis a criança deverá participar ativamente, uma vez que ao contar ou ouvir histórias ela sempre projeta algo de sua vida.

Dessa forma, as artes visuais devem integrar-se às atividades de expressão oral, corporal  e escrita, uma vez que uma ideia pode se expressar em várias linguagens.

A criança poderá por meio da expressão corporal, usar a mímica para se expressar, imitar animais, pessoas, meios de transportes e elementos da natureza (vento, chuva, mar).

Como sugestão, o professor poderá propor a criação de uma dramatização a partir da história contada, em que a criança será a autora dos diálogos, da expressão corporal, da música e criação dos personagens: bonecos de papel, fantoches, dobraduras. A criança poderá mudar toda a história, mudar os personagens, ou somente o final da história. O professor poderá, também, fazer uma releitura de uma história conhecida, observando a faixa etária da criança, seu desenvolvimento e sua área de interesse. As histórias tem como objetivo principal, desenvolver a imaginação e a criatividade da criança em atividades lúdicas e interdisciplinares, com fantoches, bonecos, máscaras, dobraduras, jogos, tendo como meta, a aprendizagem.

– Propor uma abordagem sobre arte e literatura em atividades com a criança, uma vez que, tanto a arte como as histórias são de grande relevância para formar seres alegres, criativos e felizes.

1- Atividades

  • Reunir as crianças em círculo e contar a fábula A formiga e a cigarra.
  • As crianças são incentivadas a comentar a fábula e criar uma releitura da mesma.
  • Dando seqüência, poderão ser mencionadas as estações do ano, diferenciando frio do calor.
  • Criar com as crianças uma dramatização sobre as estações do ano, informando as características de cada estação.
  • O cenário e as roupas serão criados pelas crianças, utilizando papel crepom, canetas e outros tipos de materiais.

A partir da fábula A formiga e a Cigarra  introduzir o assunto:  Trabalho

  • Mostrar uma gravura em que pessoas estão trabalhando.

Sugestão: Apresentar uma imagem da obra de Portinari Café.

  • Falar sobre o artista e comentar a sua obra.
  • Perguntar às crianças: o que vê nesse quadro? Por que será que Portinari pintava pés e mãos tão grandes?

A partir das respostas das crianças, explicar que o artista queria mostrar a luta do trabalhador rural.

  • Após essa observação da obra Café, inserir outros assuntos,  como a vida rural, os trabalhadores, a terra.
  • Sobre a terra, de acordo com a maturidade da turma, poderão ser desenvolvidas atividades de modelagem utilizando argila, em que a criança deverá ter conhecimento de onde vem esse material, e em seguida  o plantio de sementes e mudas de plantas.
  • Ao falar sobre trabalho, brincadeiras que envolvam profissões poderão ser desenvolvidas, trabalhando a expressão corporal: cada criança faz uma mímica de uma profissão (poderá ser a profissão do pai, da mãe ou a que a criança pretende seguir). As outras crianças deverão descobrir a profissão sugerida pela mímica.

Outra sugestão: recortar de revistas, gravuras de pessoas trabalhando. Colar e desenhar livremente com tinta  guache ou giz de cera.

  • Propor brincadeiras cantadas. Temos como exemplo a música: Marré de si, onde as profissões são mencionadas e escolhidas pelas crianças.
  • Voltando  à obra de Portinari, desenvolver atividades sobre pés e mãos. Em relação aos pés, além de várias atividades, as crianças poderão pintar a sola dos pés com guache e andar sobre uma folha de papel grande, dançando ao som de uma música. No final, completam a atividade utilizando pintura ou colagem. A atividade poderá ser em grupo.

Criando com as mãos

Sugestão: música Pirulito que bate, bate…

  • A criança canta e bate palmas ao ritmo da música, alternando as mãos  (direita e esquerda) com  a outra  criança  que está a sua frente.

Essa brincadeira tem como objetivo despertar a percepção sobre mão esquerda e direita.

Atividades de artes visuais

  • Numa folha de papel contornar a mão utilizando caneta hidrocor. A criança poderá preencher o desenho como quiser, depois, recorta e cria outra composição com a sua mão decorada. Sugestão: criação de uma guirlanda com as mãos das crianças.

Várias atividades poderão ser criadas: pintura de blusas, composições criativas, um teatro de dedos pintados, brincadeira de mindinho, seu vizinho, pai de todos, fura bolo, mata piolho.

2 – Segunda atividade

Releitura da fábula A Festa no Céu (essa releitura consta do livro Contar Histórias dom Arte e Ensinar Brincando)

  • Relembrar a fábula original da Festa no Céu
  • Chamar a atenção da criança sobre os paços do coelho (rápidos) e da tartaruga (lentos). A seguir, organizar uma brincadeira em que algumas crianças imitam os paços do coelho e outras os paços da tartaruga.
  • De acordo com a história, conversar com as crianças sobre a modernidade: a televisão, o cinema, o computador, os meios de transportes.
  • Sobre os meios de transportes, construir, usando sucata (caixas de fósforos, pasta de dentes, sapatos, entre outras) carro, ônibus, carroça, trem, avião.
  • Sobre festas, construir instrumentos musicais, também utilizando sucata: latas, copos de iogurte, qualquer material que produza som, podem se transformar em chocalho, tambor, entre outros.
  • Criar instrumentos musicais não convencionais: amassar, dobrar, rasgar, balançar a folha de papel. Ouvir o som de chaveiros, tampas de panelas, batidas no chão e na mesa, ouvir o som da natureza e o barulho da rua.
  • Organizar uma banda de música com esses sons.
  • Criar pinturas e colagens sobre meios de transportes e instrumentos musicais.
  • No final, com os instrumentos de sucata, organizar uma banda de música e uma festa no céu.

Essa proposta de ensino da arte procurou apontar caminhos para que o educador trabalhe as linguagens artísticas de maneira interdisciplinar, uma vez que essas linguagens permitirão que a criança vivencie a emoção, a sensibilidade, o pensamento e a criação, ao mesmo tempo em que vai aprender brincando.