A autotranscendência na logoterapia de Viktor Frankl

A autotranscendência está presente entre as tantas definições que Viktor Frankl, criador da Logoterapia, apresenta de ser humano: “o homem é um ser que transcende a si mesmo”. Explicitando o que é a autotranscendência, diz Frankl: “a essência da existência humana, diria eu, radica na sua autotranscendência. Ser homem significa, de per si e sempre, dirigir-se e ordenar-se a algo ou a alguém: entregar-se o homem a uma obra a que se dedica, a alguém que ama, ou a Deus, a quem serve”.

A autotranscendência na logoterapia de Viktor Frankl
A autotranscendência na logoterapia de Viktor Frankl

O livro surgiu com um objetivo muito claro: aprofundar a temática na sua perspectiva prática. Para tal, convidamos alguns pesquisadores, nacionais e internacionais (Brasil, Colômbia e Itália), para escreverem algo pertinente ao assunto. Contendo dez capítulos, o livro pode ser dividido em duas partes: a primeira parte aborda a teoria sobre a autotranscendência segundo a logoterapia de Viktor Frankl, posteriormente desenvolvida e aprofundada na perspectiva empírica; na segunda parte, se considera alguns campos de atuação nos quais a autotranscendência pode ser usada como intervento psicoterapêutico ou como hipótese de pesquisa.

A primeira parte do livro, composta por quatro capítulos, parte da temática da autotranscendência na perspectiva da logoterapia de Viktor Frankl, o qual a conceitualiza como uma característica definidora da humanidade e da espécie homo sapiens.

A escala da Autotranscendência

No decorrer dos anos, principalmente depois de 1960, os pesquisadores aprofundaram o conceito de autotranscendência na perspectiva empírica, com a qual buscou-se os aspectos científicos da teoria. Especificamente neste livro, apresentamos a Escala da Autotranscendência na perspectiva pró-social, ou seja, a autotranscendência consiste na capacidade de optar pela renúncia às próprias necessidades para doar-se a uma pessoa amada, a uma causa social ou ao bem comum, sem qualquer vantagem pessoal, e com a convicção de que é bom fazer o bem ao maior número de pessoas possível. Ao propor a Escala da Autotranscendência, a abordamos na perspectiva científica, ou seja, através da pesquisa empírica buscamos evidências que nos indique a sua eficácia e aplicabilidade no âmbito psicoterapêutico.

A segunda parte do livro fala sobre a autotranscendência na prática

A segunda parte do livro, composta por seis capítulos, é dedicada aos potenciais campos em que a autotranscendência poderá ser usada como intervento clínico ou como horizonte para a pesquisa acadêmica. Entre os principais âmbitos de reflexão e de atuação do logoterapeuta, os capítulos abordam as seguintes temáticas:

A autotranscendência como base para o sentido do amor nas vocações católicas

Aqui os autores partem do pressuposto que, dentre as formas possíveis para extrair um sentido da vida, destaca-se a vivência do amor, mais precisamente a capacidade de amar, pois essa inclinação é inerente ao ser humano, que possui seu núcleo na pessoa espiritual, e está enraizada na sua essência.

A relação entre autotranscendência e o propósito de vida

Temáticas que as autoras desenvolvem considerando a importância de trabalhar estes aspectos na prevenção ao comportamento suicida. A ideia é que quando o ser humano desenvolve a autotranscendência e vivencia valores, está trilhando os caminhos para um propósito de vida, tornando estes conceitos extremamente relacionados.

O impacto educativo da autotranscendência

Temática desenvolvida pelo autor na perspectiva que o valor existencial dos relacionamentos, ajuda a construir uma identidade voltada para o outro. Integrar as diferentes características de valor, para chegar a um perfil de identidade comum que inclua os aspectos importantes da convivência, significa abrir-se com uma atitude de diálogo a partir do caminho do crescimento comum, que leva à identificação de novos significados a realizar nas relações mútuas.

A autotranscendência e a adicção a substâncias psicoativas

Aqui o autor partilha a sua experiência como logoterapeuta diante dos desafios da dependência química, mas também na proposta de uma metodologia de acompanhamento de toxicodependentes cujas raízes se encontram na logoterapia.

A expressão da autotranscendência na infância

Temática que os autores desenvolvem a partir da necessidade de desenvolver os recursos e potencialidades pessoais, em coerência com os valores com os quais escolhemos nos vincular e nos relacionar com as outras pessoas. A logoterapia e a análise existencial aplicada à infância, surge como alternativa de autoconsciência das restrições para aceitá-las, enfrentá-las e transformá-las em um processo de psicoterapia.

A autotranscendência como manifestação onírica

Temática que o autor desenvolveu no seguinte tópico: o lugar da autotranscendência nos sonhos, desmembrado nos seguintes subtópicos: a autotranscendência como motivo básico dos sonhos; e a autotranscendência em sonhos de pacientes oncológicos.

Como um gesto de autotranscendência da parte dos autores, todo o lucro obtido com a venda do livro será revertido para alguma instituição que desenvolve trabalho para o bem comum.

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Vagner Sanagiotto é filósofo, teólogo e psicólogo (FAE Business School). Mestre em Psicologia e Ciências da Educação (Unisal – Roma, Itália). Cursa o doutorado em Psicologia na Pontifícia Universidade Salesiana (Unisal – Roma, Itália). Tem como área de pesquisa a Psicopatologia na vida religiosa e presbiteral. É autor de diversos artigos e capítulos de livros publicados no Brasil e no exterior.

Aureliano Pacciolla é psicólogo e psicoterapeuta, italiano, doutor em Psicologia da Personalidade pela Libera Università Maria Santissima Assunta (Lumsa) e Teologia Moral pela Pontifícia Universidade Alfonsiana, em Roma. É professor da Escola de Especialização Humanistas – Roma. Foi aluno de Viktor Frankl, sendo autor de diversos livros, entre os quais Psicologia contemporânea e Viktor Frankl (Cidade Nova, 2020). Também professor-convidado nos cursos sobre a Logoterapia no Brasil e no exterior.