04 de outubro - Dia de São Francisco de Assis

São Francisco de Assis, também conhecido como Francisco de Assis (1181-1226), é uma das figuras mais reverenciadas da história do cristianismo e o santo padroeiro dos animais e do meio ambiente. Nascido na cidade de Assis, na Itália, ele era filho de um rico comerciante de tecidos. Durante a juventude, Francisco levou uma vida despreocupada e mundana, marcada pelo luxo e pela busca de prazeres materiais. No entanto, após uma série de eventos, incluindo uma grave doença e um período de cativeiro durante uma guerra local, Francisco começou a questionar o propósito de sua vida. Ele passou por uma conversão espiritual profunda, renunciando à riqueza e ao status social para se dedicar à vida religiosa. Em 1209, inspirado por um sermão sobre a pobreza e o desapego, Francisco fundou a Ordem dos Frades Menores, ou Franciscanos, com o objetivo de viver em extrema simplicidade e servir aos pobres e doentes. Ele também fundou a Ordem das Clarissas (em colaboração com Santa Clara) e a Ordem Terceira, destinada a leigos que queriam seguir os princípios franciscanos em suas vidas cotidianas.

 

Em homenagem à este dia, trazemos para vocês o posfácio do livro que será lançado em novembro, “Francisco de Assis – Uma vida inquieta”, uma biografia contada por Frei Massimo Fusarelli, ministro geral da Ordem dos Frades Menores.

 

 

Posfácio
 

O desejo da paz


“A loucura do Evangelho não vence os poderes deste mundo”. É uma das tantas passagens significativas desse texto que pude ler com gosto, em dias tremendos para a Terra Santa, lacerada mais uma vez por um dos conflitos mais cruéis dos últimos tempos. Infelizmente, parece que não mudou muita coisa nesta Terra desde o tempo em que a visitou o Pobrezinho de Assis: “sei que na Terra Santa, onde nasceu, viveu e morreu o Príncipe da paz, esta não existe, é ferida por todos…” É assim ainda hoje: a paz, de que todos falamos, parece ser a grande estranha deste tempo. E precisaremos de um louco que, como o Pobrezinho de Assis, queira “ir até lá para pregá-la e, se possível, encontrar o sultão do Egito para anunciar-lhe o Evangelho… e anunciar a paz também aqui”.

Francisco sabia que provavelmente o Evangelho não mudaria os destinos decididos pelos poderosos do seu mundo; mas, seja como for, teria sido uma semente lançada no coração dos homens, que aos poucos, em tempos e modos que não conhecemos, produziria seu fruto. Porque “o Evangelho é tudo” e “ o mundo é nosso, se não nos sobrecarregarmos com pensamentos terrenos. … É o preço a pagar pela felicidade”. Com esta consciência, Francisco foi capaz de transpor as barreiras mentais, antes mesmo das religiosas, políticas ou militares. Não lhe pareceu estranho, portanto, decidir encontrar-se com o sultão, o inimigo a ser eliminado.

Com efeito, uma loucura para aqueles tempos, que, no entanto, ainda hoje recordamos e celebramos. Porque aquela que denominamos loucura é, no fundo, também o desejo que habita o coração de todo ser humano, em todos os tempos: o desejo da paz. A viagem de Francisco para a Terra Santa, dizia-se, não resolveu nenhum dos problemas políticos do tempo. Mas apontou um método, que ainda hoje é a via mestra para quem deseja construir contextos domésticos de paz, também aqui, hoje, no atormentado e conflituoso Oriente Médio: o encontro. Promover, procurar, construir e proteger o desejo de encontro. No fundo, se pensarmos bem, isso significa viver seriamente o Evangelho, e assumi-lo como critério fundamental para as opções de vida. Como o foi para Francisco. O sério desejo de encontro comporta necessariamente depositar confiança, dispor-se a dar lugar a uma outra voz além da própria. Não raramente exige também renunciar ou pôr de lado algo de próprio: uma visão, uma opinião, uma expectativa…

Nestes nossos contextos de conflito quase permanente, onde a religião, a política e a identidade nacional se misturam continuamente, criando assim um cipoal quase indestrinçável, encontrar-se requer coragem e loucura. De geração em geração, com efeito, narrativas diversas e opostas umas às outras alimentam a suspeita e a desconfiança recíproca entre os habitantes desta Terra, e cultivam na consciência de muitos o espírito de conquista, de violência, de desprezo por quem é diferente deles. São narrativas que contaminam o coração de muitos, que por causa de tudo isso têm dificuldade de compreender qualquer proposta possível de encontro, e confundem sempre mais a paz com a vitória.

Era o equívoco do tempo de Francisco, e é também o nosso hoje. Talvez não só no Oriente Médio. Por conseguinte, a paz – a paz verdadeira, a paz construída sobre um sincero desejo de encontro, de acolhida e de fraternidade – requer também necessariamente um caminho de conversão. Trata-se de mudar o próprio modo de pensar, trata-se de libertar o coração do espírito de violência, conquista e desforra. A paz exige também que se concretize nas relações, que se chegue a reconhecer o mal causado e sofrido, coisa nunca fácil e sempre dolorosa. Mas a verdade se torna completa quando encontra também o perdão. Ambos são mutuamente necessários.

Estou cada vez mais convencido de que, neste contexto tão complexo, a vocação e a missão principal da pequena comunidade cristã e, in primis, dos filhos de São Francisco, que há séculos aqui habitam, seja precisamente esta: salvaguardar o desejo de encontro, cultivar a liberdade em relação a todos, superar as fronteiras étnicas, religiosas e identitárias de vários tipos, que, embora não escritas no papel, estão no entanto rigidissimamente escritas na consciência destas populações. Exatamente como fez Francisco de Assis. Não se trata de cancelar as próprias pertenças, que, seja como for, são necessárias. Mas se trata de não transformá-las apenas em fortalezas inexpugnáveis, baluartes inacessíveis, guarnições militares a defender.

São muitos os homens e as mulheres de todas as crenças que ainda hoje, também aqui nesta Terra atormentada, são capazes de dar semelhante testemunho. Mas precisamos também do testemunho de uma comunidade que saiba viver, sobretudo em seu interior, e em contextos abertos e compartilhados, esta liberdade ou, para não fugir do tema, esta coragem e loucura, pois são a mesma coisa. E a nossa pequena
comunidade cristã, sem poder e politicamente irrelevante, poderia fazer a diferença. É o meu sonho e é a loucura que eu gostaria de compartilhar com toda esta pequena e amada Igreja de Jerusalém.

Com efeito, a diferença cristã não consiste nas nossas forças, nas nossas propriedades, no nosso eventual prestígio. A diferença cristã está nas nossas escolhas de reconciliação, de diálogo, de serviço, de proximidade e de paz. Para nós o outro não é um rival, mas um irmão. Para nós a identidade cristã não é um baluarte a ser defendido, mas uma casa acolhedora e uma porta aberta ao mistério de Deus e do
ser humano, onde todos são bem-vindos. Nós, com Cristo, somos para todos.

O Pobrezinho de Assis, há oito séculos, nos mostrou que, seja como for, esta loucura é possível. Cabe a nós, agora, decidir se escolhemos com coragem viver esta loucura evangélica.


Cardeal Pierbattista Pizzaballa, OFM
Patriarca latino de Jerusalém


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