José de Assunção Barros

Autor dos livros: A Constituição da história como ciência, A Construção da teoria nas ciências humanas, A Construção social da cor, A Expansão da história, As Hipóteses nas ciências humanas, Cidade e História, A fonte histórica e seu lugar de produção, Fontes históricas, História comparada, História e pós-modernidade, História, Espaço, Geografia, Igualdade e diferença, Interdisciplinaridade na história e em outros campos do saber, O Campo da história, O Projeto de pesquisa em história, O Tempo dos historiadores, Os Conceitos, Papas, imperadores e hereges na Idade Média, Seis desafios para a historiografia do Novo Milênio, Teoria da história Vol. I, Teoria da história Vol. II, Teoria da história vol. III, Teoria da história vol. IV, Teoria da história Vol. V, Teoria e formação do historiador e O uso dos conceitos.

José D’Assunção Barros é historiador, escritor, músico e professor. É Professor-Associado da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) – nos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em História – e Professor-Permanente do Programa de Pós-Graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Possui Doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além da Graduação em História, possui Graduação em Música, ambas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Preside o LAPETHI – Laboratório de Pesquisas em Teoria da História e Interdisciplinaridades. Publicou 38 livros e cerca de 200 artigos, 40 dos quais em revistas internacionais, em países diversos como Portugal, Espanha, Itália, Dinamarca, Canadá, México, Chile e Colômbia. Entre suas obras publicadas, Cidade e História (2007) e O Campo da História (2004) foram traduzidos e publicados no exterior. Suas áreas principais de atuação relacionam-se aos campos da Teoria da História, Historiografia, História das Artes (Música, Cinema, Teatro, Artes Visuais e Literatura) e Estudos sobre Desigualdades e Diferenças Sociais. / É também autor de obras de literatura, entre as quais o livro de contos O Avesso do Pau-de-arara (Ed. Achiamé, 1988) e o Romance Desacordados (Amazon, 2012), além de contos e poemas em revistas diversas que podem ser encontradas na web.

Entre algumas das suas contribuições mais relevantes para as ciências humanas estão as aplicações derivadas de uma abordagem que o autor chama de ‘interdisciplinaridades cruzadas’. Tal como o autor as define em seu livro Interdisciplinaridades (2019), as interdisciplinaridades cruzadas se referem à possibilidade de enxergar e modificar certo campo de saber a partir de outro. Seria possível, por exemplo, enxergar musicalmente a História, pensar antropologicamente a Física, abordar geograficamente a Linguística – ou quaisquer outras combinações possíveis entre dois ou mais campos de saber. Em decorrência de sua dupla formação – História e Música – o autor tem investido precisamente na possibilidade de entrecruzar estes dois campos de diversas maneiras. Contribuições importantes do autor se relacionam, ainda, ao campo da História Comparada, sendo ele o primeiro autor brasileiro a escrever um livro integral sobre esta modalidade historiográfica. Por fim, outra contribuição socialmente relevante está nos estudos do autor sobre as Desigualdades e Diferenças – especialmente Igualdade e Diferença (2016) e A Construção Social da Cor (2009) – obras nas quais procurou elaborar uma teoria que esclareça as muitas maneiras conforme as quais as diferenças podem se converter em desigualdades, e vice-versa. O currículo completo do autor pode ser examinado em http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4775874Y6.

Confira abaixo uma entrevista exclusiva que fizemos com o autor!

– Como e quando surgiu a ideia de escrever seu primeiro livro, e qual foi?

Meu primeiro livro publicado pela Editora Vozes, em 2004, foi O Campo da História. O livro trata das diversas modalidades historiográficas em que se divide a História como campo de saber (História Cultural, História Política. Micro-História, História Comparada, e assim por diante). Mas a obra não se limita a inventariar e descrever esses diversos campos internos à disciplina História, como ocorre em algumas coletâneas sobre o assunto. A obra desenvolve uma teoria sobre a organização da História nestes vários campos, mostrando que há pelo menos três critérios que presidem à formação desta modalidades historiográficas. Há em primeiro lugar os campos que são formados por aquilo que o historiador enxerga em primeiro plano ao examinar uma sociedade ou processo histórico – e que eu chamei de dimensões (o estudo da Cultura gera a ‘História Cultural’; o estudo do Poder gera a ‘História Política’, e assim por diante). Em segundo lugar, há um grupo de campos históricos que se refere a metodologias. A História Oral, por exemplo, trabalha com entrevistas; a História Comparada, compara dois recortes de tempo-espaço; a História Serial analisa série de documentos. Por fim, há um terceiro critério que se refere às temáticas de estudo, e são de número indefinido (História do Livro; História das Mulheres; História das Cidades; História da Arte; História do Direito, e assim por diante. Ocorre que existiam coletâneas, geralmente escritas por vários autores, que inventariavam e falavam sobre diferentes modalidades historiográficas, mas sempre agrupadas aleatoriamente. Não havia, ainda, um livro que se propusesse a esclarecer porque e como as diferentes modalidades historiográficas se formam, e que agrupasse os diferentes campos em categorias bem definidas. Essa foi a tarefa do livro O Campo da História. Porque percebi que havia esta lacuna na historiografia é que escrevi a obra. E tanto ela preencheu uma lacuna, que até hoje, ano a ano, são renovadas novas edições deste livro.

– Onde busca inspiração para os temas de seus livros?

Sou professor de História em cursos de Graduação e Pós-Graduação, e também trabalho com uma perspectiva Interdisciplinar, que também me leva a estudar outras áreas. Muitos dos temas dos meus livros surgem da minha percepção de que eles são necessários para a formação de historiadores e de outros estudiosos das ciências humanas. Assim, por exemplo, meu segundo livro publicado pela Editora Vozes foi foi ‘O Projeto de Pesquisa em História’ (2005), um livro que se mostrava necessários aos alunos de graduação que precisavam planejar suas monografias de final de curso, e aos pesquisadores de pós-graduação que precisavam escrever projetos. O livro ‘Fontes Históricas’ (2019), por exemplo, surgiu da percepção de que era necessário um livro que esclarecesse – em uma linguagem simples, mas que não perdesse a complexidade e a profundidade – o que são as fontes históricas do ponto de vista do historiador, e quais os diferentes tipos de fontes históricas que este pode abordar. Ou seja, alguns dos temas de meus livros surgem de necessidades práticas no interior de uma certa disciplina científica, como a História. Mas há também os que surgem da exploração interdisciplinar. Por exemplo, em livros como ‘O uso dos Conceitos – uma abordagem interdisciplinar’ (2021), ou ‘História, Espaço, Geografia’ (2015), eu invisto em proposições bastante criativas em termos de tentar compreender um campo de saber a partir de outro. Chamo a isto de “interdisciplinaridades cruzadas”. No livro “O Uso dos Conceitos”, por exemplo, eu comecei a me perguntar se certos conceitos típicos da Música – como “acorde”, “polifonia”, “harmonia”, “dissonâncias” – não poderiam ajudar a pensar de uma nova maneira a Teoria nas mais diversas disciplinas. Ou seja, comecei a me perguntar se poderíamos estender um olhar musical para campos como a História, Antropologia, Física, Biologia. Os cruzamentos interdisciplinares também me inspiram muitos temas importantes para meus livros.

– Qual livro está lendo agora?

Eu tenho me interessado muito em expandir meus horizontes de estudo e de reflexão, para além da minha formação como historiador (ou como músico, pois esta é uma segunda formação minha). Acredito que devemos ultrapassar os limites da hiperespecialização em um único campo de saber; e que – mesmo que tenhamos uma disciplina específica de atuação – precisemos nos aproximar dos demais saberes em um nível mais humanista de conhecimento geral. Recentemente, tenho me interessado em compreender questões da Física e da Biologia: qual a origem do universo, qual a origem da vida, qual a origem da consciência? Estou lendo neste momento, para entender melhor as teorias mais modernas sobre o Universo em que vivemos, o livro ‘O Universo Elegante’, de Brian Greene. Mas também estou lendo sempre obras de literatura, o que considero fundamental. Tenho percorrido a obra literária de Dostoievski, por exemplo.

– Já tem um tema para um próximo livro??

Estou organizando dois livros que em alguns meses serão publicados pela Editora Vozes. Eles contam com textos meus, mas também de outros autores. Um é “História Digital” – um livro que vai discutir a inserção da História e dos historiadores neste nosso mundo repleto de novas possibilidades tecnológicas; o outro chama-se “A Historiografia como Fonte Histórica”, e desenvolve a consciência de que os próprios textos produzidos pelos historiadores, em uma certa época – e independente dos tempos históricos que estes historiadores estudam – podem ser também tratados como fontes históricas para compreender as demandas da própria época em que o historiador escreveu o livro. Por exemplo, um livro sobre o Antigo Egito escrito no século XIX, além de sua intenção de discorrer sobre o Egito, termina por falar do próprio século XIX. Os livros que os historiadores de hoje estão escrevendo sobre épocas diversas, da mesma forma, revelam demandas, anseios e perspectivas de nosso mundo atual. Esta percepção de que a própria obra dos historiadores não escapa do ciclo da história – fazendo com que a História se apresente como um instigante jogo de espelhos – é o tema desta obra que brevemente será publicada. Com relação ao meu próximo livro de autoria integral, estou pensando em escrever sobre as diversas relações entre ‘História e Música’ – mostrando como esta pode se tornar objeto para estudo dos historiadores, fonte histórica, meio de representação para a História, ou, por fim, inspiração interdisciplinar para a própria História. Estas são quatro relações bem diferentes, cada qual com suas próprias implicações.

– Você tem vários livros publicados conosco. Sei que é uma pergunta difícil de responder, mas tem algum que é o seu preferido?

O primeiro livro publicado por um autor em uma editora sempre traz a ele um sentimento especial, pois frequentemente foi o livro que abriu a sua carreira autoral. Neste sentido, ‘O Campo da História’ (2004) – meu primeiro livro na Editora Vozes – sempre terá um significado especial para mim. Mas o último livro que publiquei, em cada momento, também acaba ocupando um lugar especial. Neste momento, meu último livro – o “caçula” entre todos os seus irmãos – é ‘O Uso dos Conceitos – uma abordagem interdisciplinar’. Trata-se de um livro dedicado a todos os campos de saber: da História e demais ciências humanas às ciências da natureza, como a Biologia e a Física. Escrever este livro me obrigou a expandir meus horizontes, e por isso tenho uma especial afeição por esta obra. Mas é claro que, quando eu escrever a minha próxima obra, ela se tornará a minha paixão mais recente.

– Poderia indicar para os leitores um livro que marcou sua vida e que vale muito a pena a leitura?

São muitos os livros que eu poderia citar, e em campos diversos. Mas eu posso lembrar a obra “Assim Falou Zaratustra”, de Nietzsche – um livro que nos leva a refletir sobre muitas questões. / São muito importantes para mim, também, as obras de literatura: autores brasileiros, como Lima Barreto e Machado de Assis, e internacionais, como Gabriel Garcia Marques, José Saramago e Dostoievski – sem esquecer os poetas, como Carlos Drummond de Andrade e Fernando Pessoa. / Por fim, os livros de autores que nos podem levar a desenvolver uma maior consciência sobre o mundo social no qual vivemos são fundamentais, como algumas das obras de Marx e Engels, sem esquecer as obras de autores anarquistas como Kropotkin, tal como o clássico “A Conquista do Pão”. Me marcaram também algumas das obras de Ouspensky – como a “Psicologia da Evolução Possível do Homem”. Elas nos levam a nos perguntar se estamos realmente conscientes neste mundo em que vivemos, ou se a ampla maioria das pessoas não estaria mergulhada em um sono profundo, agindo mecanicamente e de forma praticamente inconsciente.

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