Welder Lancieri Manchini

Autor dos livros: Perseverando com Jesus e Catequese e internet. E coautor de Escolhendo Jesus – Jovens cristãos para uma nova sociedade.

Welder Lancieri Marchini é editor da área de Teologia e Espiritualidade da Editora Vozes. É professor do curso de pós-graduação “Religião e Cultura”, no Centro Universitário Assunção (UNIFAI), em SP e do curso de pós-graduação em Missiologia (FAJOPA -Marília -SP). Presta assessoria na área catequética e coordena a graduação em Teologia na USF – Universidade São Francisco.

Conheça mais sobre o autor na entrevista exclusiva que fizemos com ele. Confira abaixo!

– Onde busca inspiração para os temas de seus livros?
Um teólogo pastoralista precisa estar atento àquilo que acontece. Isso porque o modo como vivemos, o modo como nos locomovemos, fazemos compras, o fato de termos emprego ou estarmos desempregados, tudo isso influencia muito na maneira como a pessoa se relaciona com a Igreja. Só para dar um exemplo. Eu me sentei na frente de um computador pela primeira vez quando tinha 15 anos. E esse computador não era conectado na internet. Na verdade, a internet era algo muito distante da vida cotidiana. Hoje as crianças não acessam a internet. Às vezes parece que elas nascem já conectadas. Fazemos tudo pela internet, compras, consultas, nos relacionamos pela internet. Seria um equívoco pensar que toda essa realidade não chega à pastoral.
Por isso, estar atento à realidade é muito importante e os livros são fruto desse olhar para a realidade. Nos meus livros trato sobretudo da realidade paroquial. Mas o olhar sempre está voltado à pastoral paroquial, à catequese, à pastoral juvenil, que entendo que são os elementos mais sensíveis da pastoral paroquial. Também trato da questão urbana. Esse foi meu estudo de mestrado. Mas todos esses assuntos estão à nossa volta. Quando vamos comprar um pão no mercado e não sabemos o nome de quem nos atende, ou quando nem precisamos ir ao mercado pois podemos pedir o pão por aplicativo, temos aí o tema para pensar a pastoral da Igreja, pois não somos desconectados do mundo onde vivemos. Os temas surgem de um olhar atento que olha para a realidade e pensa: como podemos ser cristão nesse mundo?
– Qual livro está lendo agora?
Estou lendo dois livros. Um é Torto arado, de Itamar Vieira Junior. É um autor brasileiro que traz uma história repleta de elementos também brasileiros. É muito bom vermos como a literatura tem essa capacidade de nos conectar com a nossa cultura.
O outro é Sociedade paliativa, de Byung-Chul Han. É um filósofo coreano que vive na Alemanha e traz algumas reflexões muito interessantes e que nos ajudam a entender o mundo atual.
– Já tem um tema para um próximo livro??
Sim, estou escrevendo. Trata-se de um livro mais teórico, sobre teologia decolonial. É uma linha teológica relativamente nova, que está se construindo, se articulando, que busca entender a religião e o modo de ser cristão em um diálogo com as culturas locais. Afinal, nós não somos cristãos na lua e, no nosso caso em específico, nem na Antártida, nem no Vaticano. Então somos chamados a ser cristãos na nossa idade, no nosso contexto, dialogando com as questões que batem à nossa porta. Mas o projeto ainda está bem no início, nos primeiros rascunhos.

– Sobre seu novo livro, “Catequese e internet”, que será lançado em outubro, como surgiu a ideia de escrevê-lo?
Esse livro tem uma história curiosa. Em 2012 eu cursava a faculdade de teologia e tive a ideia de escrever um livro sobre catequese e internet. Mas a ideia não vingou, não foi pra frente. Eu guardei aquele arquivo no computador, mas acabei desistindo da ideia. Quando veio a pandemia eu comecei a acompanhar alguns cursos de catequistas e vi que havia uma dificuldade muito grande de pensar a catequese e sua relação com a internet. A primeira dificuldade era de entender a própria internet. Mas também haviam barreiras apresentadas. Alguns catequistas mostravam temer a internet, como se ela fosse acabar com a catequese. Então eu achei que era hora se retomar o projeto, e quando eu fui ver aquilo que eu havia escrito eu pensei: “ainda bem que não vingou!”. Pois, sinceramente, não estava bom. Foi então que eu conversei com o Pe. Thiago Faccini, um grande amigo com quem discuto muitas questões relacionadas à catequese e ele aceitou o desafio de escrevermos juntos. O produto final é muito diferente do projeto lá de 2012. Tem muita contribuição do Pe. Thiago e eu mesmo mudei de ideia em relação a várias coisas. Nesse meio tempo também a catequese mudou muito. As reflexões sobre os processos catequéticos estão mais maduras e nós buscamos trazer tudo isso para o livro. Agora sim, o resultado final me agradou.
– Qual o maior desafio que a Catequese enfrenta com o crescimento cada vez maior da internet e o aumento da interação virtual em detrimento da interação olho no olho?
É importante pensar que o ser humano gosta do olho no olho. Nós nunca vamos perder isso. Nós somos pessoas que gostam do cheiro, do sabor, do abraço. Tudo bem que com a pandemia e com as máscaras os cheiros estão mais distantes e os abraços quase não existem. Mas o ser humano, e sobretudo o brasileiro, gosta desse encontro mais próximo.
Eu sou de São Paulo. Nasci na Grande São Paulo. Mas fui criado em Pirassununga, uma cidade pequena do interior de São Paulo. Morei lá até meus 15 anos. Então foi lá que eu participei da comunidade, foi lá que eu fui catequizando. Hoje, quando vou para a casa da minha família, vejo que a cidade está muito diferente. Tem muita gente que eu não conheço, mas é muito gostoso lembrar de cada pessoa com quem eu convivia. Mas o mais interessante é que muitas dessas pessoas têm contato comigo pelas redes sociais. Nem sempre eu consigo conversar com elas, mas quando vejo que elas postam algo na rede social, é como se eu estivesse lá, convivendo com elas. E quando a gente curte algo, é como se a gente estivesse falando um oi. No fundo a internet possibilitou que a gente continue tendo contato com as pessoas.
Com a catequese não é diferente. A internet tem a capacidade de nos conectar para além do encontro de catequese. Mas a relação entre catequista e catequizando, a relação com as famílias, com a comunidade cristã e a relação entre os próprios catequizandos vai continuar acontecendo. É lá que aprendemos a ser cristão. A internet apenas facilita nossa conversa.
– Poderia indicar para os leitores um livro que marcou sua vida e que vale muito a pena a leitura?
Vou indicar dois. Sou péssimo eu ter uma coisa preferida. Geralmente tenho várias. Então vou indicar um de literatura e um de teologia. O de literatura é Todos os nomes, de José Saramago. Acho que foi o primeiro livro de literatura que eu li, ainda na minha adolescência, e realmente gostei. Conta a história de uma pessoa que se encanta por documentos antigos. Um dia ele decide ir atrás de um dos nomes que encontra em um determinado documento. É uma história simples, mas que a gente fica curioso pra saber o que ele vai fazer, se vai encontrar ou não as pessoas.
O outro é um livro de espiritualidade. Eu trabalho como editor de teologia aqui na Vozes. O editor é aquele que busca livros para serem publicados. Trabalho nessa função desde 2017 e gosto muito daquilo que faço. A gente sente um carinho especial por cada livro, sobretudo os de autores nacionais, pois sabemos o quanto cada autor se dedica na hora de escrever sua obra. Mas tem alguns livros que a gente pensa: “Meu Deus, como eu gostaria de ter escrito isso!”. E é muito legal fazer parte desse processo de garimpo, de trazer uma obra e ver que ela se transforma em livro na estante. Nesse processo, a obra A chegada de um Deus selvagem me encantou muito. A obra é escrita por Jaime Tatay, um jesuíta espanhol. E na obra ele diz que Deus é como um lobo selvagem que chega de mansinho, sem a gente perceber, mas quando chega muda todo o ambiente à sua volta. É um livro de espiritualidade que traz uma linguagem muito boa, apresentando um cristianismo vivencial, que aproxima as pessoas de si mesmas, mas também dos outros.

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