Francisco de Assis: humanidade e divindade nas páginas de um livro

São Francisco de Assis é facilmente reconhecido por sua humildade e alegria. Encantados com sua rica história de amor e devoção, os autores Renata Bohomoletz e Frei Volgran Leluia se juntaram para narrar trechos de sua trajetória no livro “Francisco de Assis – História, contos e lendas”. “Estas páginas se tornam genuíno tesouro para um leitor que é convidado a ver a humanidade em Francisco de Assis com os olhos da admiração, se identificando”, comenta o autor.

Ao longo da entrevista, os autores apresentam a obra, com curiosidades sobre a publicação e contando o que os inspirou para escrever essa intensa narrativa. Confira!

Editora Vozes: Qual a ideia central da obra?

Renata Bohomoletz: Queríamos relatar o verdadeiro Francisco. O jovem rapaz de família rica que morreu nu, porque assim quis. Uma vez tinha que dar uma palestra a uma grande empresa do setor varejista. Precisava explicar-lhes dois pontos: ambição não é errado e a evolução para o bom convívio. E bingo! Parecia ver Francisco dizer: “Olha pra mim!”. E eu olhei, e assim como o Frei (que não estava na palestra, mas partilhávamos da mesma ideia, amor, de Francisco) percebemos que não é porque queremos ser santos, ou bem-sucedidos, que de repente surgem auréolas e milagres acontecem. E mostrei o sofrimento de Francisco, como homem, até chegar a sua santidade. Foram depressões, paciência, luta para que não deixasse o amor esvair.

Frei Volgran Leluia: Conhecemos Francisco de Assis como um santo de Deus. Os feitos notáveis com uma linguagem mítica fornece alguém além das expectativas. Quando morei na Itália dentro do sacro convento passei por certas agonias na alma que me causaram uma grande angústia na vida. Perguntei a São Francisco o que precisava fazer para sair daquela situação. Uma releitura me levou a escutar sua mensagem: leia o evangelho. Entendi que os olhos de São Francisco vislumbrou o mundo a partir dos olhos de Cristo. Por fim, quando a inspiração do alto veio ao meu encontro entendi que o santo homem era tão humano que se tornou um homem santo. Se Deus beijou, ele não vai perder tempo de beijar e sentir a mesma sensação que Deus. Ele não precisou almejar sair raios de sua mão para assumir em si a vida divina, mas somente provar e ver que é bom.

ED: De que forma São Francisco é apresentado nesta obra?

RB: Como um homem a frente de sua época, vanguardista no trato amoroso, compreensivo, sem julgamento e extremamente feliz a despeito de seus embates. E como vanguardista, vou contar uma conversa com o Frei: Francisco gostava de música de vanguarda, e pediu a um amigo que tocasse para ele suas músicas, para ele saborear antes de sua morte. Só que eu vou, petulante, além: nos dias de hoje, Francisco gostaria de um bom rock’roll, que falasse de amor e simplicidade. Eu tenho pra mim que ele amaria “My hero”, do Foo Fighters, onde ele cantaria, “lá vai meu herói, e ele é simples”… Opa! Ou não seríamos nós a cantar para ele? (risos)

FV: Francisco de Assis nas páginas deste livro é um homem onde humanidade e divindade se encontram num espaço único em um só tempo. Não há dicotomia ou negação, mas a unidade de duas realidades que se apresentam distintas e de difícil compreensão entender a relação entre ambas. Francisco de Assis nos convida a fazer o mesmo.

ED:Qual história, conto ou lenda se destaca na narrativa?

FV: Há um momento todo especial para mim, quando Francisco de Assis identificou o amor: Francisco, que está fazendo? Estou admirando o amor! Onde? Ali! Mas isso é uma borboleta numa flor. Para mim é o próprio amor.

ED: O livro pode ser considero como uma viagem no tempo à época de São Francisco?

RB: Absolutamente. Na parte da história relatamos o cenário da época e da região que viveu Francisco, o que explica muito dos impactos sociais para os quais um dia, sob a luz que Cristo que sua mãe lhe incutia desde criança, Francisco despertou! E que não foi lúdico como em filmes, que uso para fisgar os leitores (sic), mas de muita luta com as condições que ele tinha na época: pouco para o povo, muito para o clero, acolhimento, mesmo que nos cultos Francisco não se achasse digno de dar a comunhão, pouca instrução e, por fim, o retrato do encontro dele com o sultão, a mais marcante – pois mostra que ele não quer morrer como um mártir – como tantos na época, mas por amos. E tudo isso sob um cenário realista da Idade Média, quando viveu Francisco.

FV: Esta literatura é provocante por instigar a aprofundar sobre São Francisco, pois é carregada de novidades e peculiaridades, que ao começar levar o leitor é capturado pelo mistério envolvente da trama na obra. Um convite a passear e vislumbrar uma viagem pelas paisagens pitorescas, diversos encontros, realidades diferentes da Itália em um tempo majestoso na história de Francisco de Assis.