Relatos de um Peregrino Russo, por Leonardo Henrique Agostinho, MSC

No livro Relatos de um Peregrino Russo narra-se as experiências de um cristão, que após ouvir a exortação “Orai sem cessar”, busca entender o significado dessas palavras e passa a percorrer cidades, procurando mestres espirituais que o ajudem nessa empreitada. Segundo suas próprias palavras, ele é um pecador e peregrino, seu nome, contudo, é desconhecido, por isso diz se que é uma obra de um anônimo do século XIX.

Nos relatos manifestam-se elementos essenciais da espiritualidade e da tradição hesicasta. Assim, segundo a narrativa, a oração é apresentada como um exercício necessário, enquanto sua prática se dá graças ao auxilio divino. A frequência ou a constância na oração é o que conduz ao caminho que leva ao Senhor; este caminho faz com que a pessoa seja iluminada pelo Senhor e una-se a Ele.

Questionando um monge sábio, o peregrino aprende que a oração verdadeira é recitada com os lábios, com coração e com a mente, ou seja, todo o ser pessoa reza. Essa oração, interior e constante, fará com que o peregrino sinta, em toda parte e todo momento, a presença do Senhor. “Senhor Jesus Cristo, tenha piedade de mim!” é a fórmula dessa oração.

Esta oração, como narra o peregrino, fortalece e consola aquele que a recita, em todos os momentos e em todos os encontros. Com o tempo, a recitação passa dos lábios ao coração, convidando e conduzindo a pessoa que reza à solidão, pois seu coração se inflama de um desejo de unir-se a Deus através da oração interior. Aquele que reza no coração vê todos os seus temores dissipados e passa a uma inteira confiança na vontade de Deus. Alegria e felicidade são frutos dessa oração, pois através dela é criado no espírito um estado de vigilância e uma pureza no coração.

Através dos quatro relatos e por meio das narrativas da vida do Peregrino Russo, percebe-se que a oração é uma conversa com Deus e que alma deve vigiar-se para não desprezar essa conversa, divagando em diálogos consigo mesmo ou com as criaturas. No momento da oração, nenhum pensamento, por mais belo que seja, deve ser admitido, pois a oração deve ser absoluta e pura. Por fim, essa oração, de acordo com o anônimo, não é adquirida, mas brota no coração, graças à misericórdia de Deus. Mergulhar no mais profundo e silencioso do coração, invocando o nome de Jesus é abrir-se à luz e ao Reino de Deus.


Leonardo Henrique Agostinho, MSC
Religioso da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração,

formado em Filosofia e estudante de Teologia, na PUC-SP.