Os Mitos Gregos e Romanos


Por: Tyrfang Hollydragon e Bellou̯esus īsarnos

Os mitos gregos e romanos
Os Mitos Gregos e Romanos

Em “Os Mitos Gregos e Romanos: um guia das narrativas clássicas”, Philip Matyszak oferece um frescor revigorante frente a esse tema já tão exaustivamente investigado. Percebe-se com clareza que a construção de capítulos, títulos e da estrutura geral da obra tem certo quê de fã, bem além do pesquisador, professor e acadêmico. Existe ali um diálogo delicioso de se acompanhar.

A maneira como cada mito, cada história e cada trecho de obras citadas é orquestrada demonstra não apenas o cuidado primoroso em não perder detalhes importantes e, ao mesmo tempo, não ser maçante e moroso, com uma exibição tediosa de puro conhecimento acadêmico. Assumindo o risco de eventuais críticas, o erudito autor demonstra uma vontade intensa de acrescentar o máximo possível de informações sem transformar a obra em um tratado.

Não há novidades nas narrativas greco-romanas. A inovação está na forma como podem ser continuamente revisitadas, editadas, reescritas, deixando de lado quase que de modo casual o caráter canônico de seus relatos, tidos no passado como sagrados, inspirados pelos Deuses.

Dentro do universo acadêmico não há tanto espaço para tratar de fé como elemento categórico. Embora influente, a fé é mas muitas vezes desconsiderada por ser subjetiva, seja este sujeito um indivíduo, um povo ou uma civilização inteira com sua visão de mundo, que precisa ser considerada integralmente para ser compreendida. Não sendo assim, poderia se repetir a miopia de Júlio César e Aulo Hírcio quando, nos “Comentários sobre a Guerra Gaulesa”, claramente trazem um texto detalhado, mas repleto de preconceitos, generalizações e simplificações carregadas de visão imperialista e com um tom de superioridade narrativa, nada do que se percebe nesta leitura. Seu autor quer entrar na mente das pessoas para quem essas lendas eram parte da vida quotidiana.

O cuidado na divisão dos capítulos, na organização dos textos é percebido desde o início da obra. Ao chegar nos clássicos da Ilíada, Odisseia e Eneida, isso fica manifesto na escolha esmerada de trechos, com acréscimos e comentários não-mais-do-que-o-necessário, que enriquecem a leitura sem resvalar no tom professoral.

O leitor sentirá saudade ao terminar esta viagem, talvez nostalgia por algo que não viveu; apesar de sabermos que esse tema é fonte inesgotável de discussões e de já termos conhecimento de praticamente tudo o que possa conter, é uma leitura prazerosa, informativa, divertida em vários momentos, e com um cuidado que poucos autores têm ao abordar temáticas da mitologia. Não erra pelo excesso de jovialidade nem peca com a repetição enfadonha de velhos modos de narrar velhos mitos.

Calorosamente recomendável aos apreciadores, pesquisadores, estudiosos e meros curiosos de mitologias e suas narrativas épicas.

Tyrfang Hollydragon


No correr dos anos, as mais variadas perspectivas têm sido assumidas no estudo da mitologia. Estudiosos modernos já a apresentaram como invenções para cobrir história e política reais e conflito de classes, projeções da psicologia de grupo e do inconsciente coletivo, sempre se esforçando para desconstruí-la.

No entanto, tratar a mitologia em seus próprios termos, como produto da cultura que a gerou, poderia ser uma atitude mais proveitosa. Considerando que a cultura greco-romana é, até certo ponto, a nossa própria cultura, embora dela separados por dois milênios, as histórias dos deuses olimpianos e dos heróis antigos são as nossas próprias histórias. Essa é a aproximação que Philip Matyszak, doutor em História Romana pelo St John’s College, Oxford, e autor de numerosos livros sobre as culturas clássicas, adota neste “Os Mitos Gregos e Romanos”.

Na Introdução, o autor explica as três razões principais que o levaram a escrever o livro.

A primeira, oferecer ao leitor uma visão panorâmica do corpo mitológico sobrevivente. Elaborada por mais de mil anos em distintas regiões do continente europeu, a mitologia clássica, apesar disso, veio a formar um todo unificado, “o maior conto colaborativo jamais contado e ainda mais inspirador por ser o esforço coletivo de duas culturas diferentes”.

A segunda seria contextualizar os mitos, mostrá-los como o seu público original poderia tê-los sentido, em uma exposição livre de interpretações modernas.

Por fim, mas não menos relevante, o autor salienta a importância da mitologia greco-romana para o mundo moderno. Ainda hoje recebemos o influxo dos velhos deuses e heróis através de obras de arte, itens da cultura de consumo e mesmo expressões da linguagem quotidiana (calcanhar de Aquiles, caixa de Pandora, trabalhos de Hércules, cavalo de Troia) que seriam incompreensíveis sem conhecimento da mitologia.

Assim, de Apolo a Zeus/Júpiter, de Prometeu a Sísifo, de Hera/Juno a Hades/Plutão, as estrelas radiantes da mitologia clássica recheiam os capítulos e seções deste livro e qualquer pessoa com a menor curiosidade sobre elas nele descobrirá o amplo cenário dos seus feitos… e  futricas das mais suculentas; inegavelmente sério, nem por isso “Os Mitos Gregos e Romanos” deixa de ser uma brincadeira divertida, embora legitimamente educativa, que cumpre seu propósito de romper o nevoeiro da Antiguidade.

Este guia prático para os mitos gregos e romanos mostra a vida presente na mitologia clássica: no passado – que a viu florescer-, e no presente, com sua presença às vezes óbvia, às vezes sutil. E isso por meio de fragmentos das lendas desconcertantemente complexas da Grécia e Roma antigas que ainda integram a vida e o discurso atuais. O Dr. Matyszak costura retalhos mitológicos em uma narrativa acessível e agradável, fornecendo uma breve visão de como muitas das veneráveis fábulas influenciaram a literatura e a arte ao longo da história – uma leitura notavelmente espirituosa e instrutiva.

Bellou̯esus īsarnos

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Caixa Mitos

Os livros que compõem esse box são uma perfeita introdução ao mundo dos mitos e das lendas a partir de quatro diferentes perspectivas. Em Os mitos celtas, Mitranda Aldhouse-Green apresenta os mitos irlandeses e galeses, seus principais personagens, além de toda uma discussão sobre como e por quem essas lendas são transmitidas. Gary J. Shaw, em Os mitos egípcios, introduz ao leitor a forma encontrada pelos antigos habitantes do Nilo para explicar o mundo ao seu redor, como os deuses se manifestavam ou, por exemplo, o que essas pessoas imaginavam que acontecia na vida após a morte. Os mitos nórdicos, de Carolyne Larrington, descreve de forma bastante acessível as origens das lendas vikings e escandinavas pré-cristãs, bem como seus vários deuses, gigantes e heróis famosos. Já na obra Os mitos gregos e romanos, Philip Matyszak revela as lendas e as aventuras do período da Grécia e da Roma clássica, os deuses e deusas, semideuses, heróis e heroínas, monstros, e como esses personagens influenciaram a arte e a cultura até os dias de hoje.

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Tyrfang Hollydragon ( também chamado de Thyago Marcondes) historiador, advogado, professor, escritor do livro Bruxaria Urbana,  coordenador da Celebração do Dia do Orgulho Pagão São Paulo,  membro fundador do grupo de Combates Históricos Medievais Ordo Draconis Belli,  sacerdote wiccaniano, estudioso e pesquisador de mitologias e religiosidade pagã e neopagãs. Professor, marido e pai. 

Bellou̯esus Īsarnos é Advogado, consultor jurídico do Conselho Brasileiro de Druidismo e Reconstrucionismo Céltico – CBDRC e atual Secretário Executivo da Comissão de Ética e Disciplina do Conselho – CEDiC. É estudioso de várias línguas antigas, como o irlandês antigo e o gaulês antigo e moderno, entre outras. Contribui, há longos anos, com seus estudos e escritos acerca do Druidismo e da cultura celta para a comunidade druídica. Foi palestrante do Encontro com o Druidismo do Rio Grande do Sul – EcD/RS nas suas três edições, além de participar do Encontro Brasileiro de Druidismo e Reconstrucionismo Celta – EBDRC (organizador da edição 3 do evento). Co-autor de Anthologia Gallica (Senobrixta-Galáthach hAthevíu Poetry and Prose) , assina textos na obra Cnus’vláthu Galáthach (A Modern Gaulish Anthology), bem como é autor dos websites “Bellodunon” e “Nemeton Beleni”. Traduziu livros como Quatro Ramos dos Mabinogi, Sete Sermões aos Mortos (C. G. Jung), Dos Deuses e do Mundo (Sallustius). Pesquisador e praticante de um bom número de oráculos, também apresenta inclinações pela Magia Cerimonial, Cabala, Magia do Caos e Hermetismo.