Chapeuzinho Vermelho na escola
Em Chapeuzinho Vermelho na escola: mil anos de história, Fabiano Moraes apresenta um histórico de mil anos de um dos contos mais presentes na instituição escolar.
Às vésperas do aniversário de um milênio da versão medieval de Chapeuzinho Vermelho, publicada por Egberto de Liege em 1023, o novo livro de Fabiano Moraes delineia um histórico de mil anos desse famoso conto em sua relação com a educação e com a escola, além de apresentar propostas éticas para sala de aula a partir de versões contemporâneas da história.
A pesquisa teve início em seu Mestrado em Estudos Linguísticos pela UFES. O trabalho inicial consistiu em uma análise arqueológica do conto, posteriormente complementada e ampliada por inúmeros estudos que culminaram na publicação do livro.
Voltado para professores, bibliotecários, pesquisadores, contadores de histórias e demais interessados no tema, a obra se divide em três partes.
Na primeira delas, o conto é contextualizado em seus aspectos históricos, simbólicos, discursivos, tradicionais e literários. A figura do lobo é analisada tanto com base no pensamento moderno europeu que o vê como uma ameaça externa, quanto a partir do olhar das culturas indígenas em sua relação de comunhão e integração com a natureza. Em seguida, ao se apresentar a personagem principal da história, não apenas é evidenciada a origem feminina e campesina do conto, como também é destacada a dupla violência de suas versões mais consagradas contra a mulher e contra a tradição oral camponesa.
Na segunda parte é traçada a trajetória de Chapeuzinho Vermelho em sua relação com a escola no decorrer dos últimos mil anos. São apresentadas, contextualizadas e analisadas: a versão publicada em 1023 por Egberto de Liege, em que uma menina, após ser batizada, é levada por um lobo, dele se protegendo com a capa vermelha que recebera de seu padrinho na ocasião do batismo; a versão de Perrault, de 1697, em que a menina e a avó são devoradas pelo lobo, sendo a protagonista punida e considerada culpada pela violência e pela ameaça que sofre; e as duas versões dos irmãos Grimm, datadas respectivamente de 1812 e 1819, nas quais a menina e a avó são salvas e o lobo é punido. Por fim, são feitas breves alusões a algumas versões modernas adaptadas dos contos de Perrault e dos Grimm.
Na terceira parte do livro são propostas práticas de letramento literário, de escuta, de leitura e de produção de texto para crianças, jovens e adultos da Educação Básica a partir da análise e da apresentação de quatro versões contemporâneas do conto: a versão cinematográfica Deu a louca na Chapeuzinho dirigida por Cory Edwards e as versões escritas Fita verde no cabelo de Guimarães Rosa, Chapeuzinho Amarelo de Chico Buarque, e A Indiazinha Chapeuzinho Verde de Maria Lucia Takua Peres. Sempre com o intuito de convidar o educador a lançar mão de abordagens em sala de aula a partir de versões que subvertam e reinventem a narrativa dominante e que instaurem um lugar do sonho e de comunhão com o mundo e com o outro, contribuindo para adiar o fim do mundo, como nos sugere Ailton Krenak.
De um lado, o livro lança uma visão panorâmica da trajetória milenar desse conto em sua relação com a escola, apresentando suas versões como materializações textuais que refletem os discursos e as verdades de cada época. De outro, convida o educador a questionar as versões consagradas de Perrault e dos Grimm por meio de análises críticas, releituras éticas e sugestões de trabalhos de leitura e produção de texto em sala de aula, destacando a urgência de se promover uma educação política que possibilite a constituição de versões que levem em consideração o caráter histórico da personagem Chapeuzinho Vermelho em sua atualidade.
Em outras palavras, no livro Chapeuzinho Vermelho na escola: mil anos de história, Fabiano Moraes memora, de maneira crítica, um milênio do conto Chapeuzinho Vermelho em suas versões escritas vinculadas à escola, desejando que essa história se propague em versões escritas pela própria Chapeuzinho (na figura dos tantos segmentos sociais, étnicos, raciais, etários, especiais e de gênero subalternizados e invisibilizados), tal como Maria Lucia Takua Peres magistralmente o fez em seu livro A Indiazinha Chapeuzinho Verde, contribuindo para nos libertar das narrativas dominantes e adiando, a partir do lugar sagrado dos sonhos, o prenunciado fim do mundo.
Vida longa à Chapeuzinho!
Fabiano Moraes é professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), doutor em Educação, mestre em Linguística, graduado em Letras e Pedagogia, contador de histórias e escritor de livros técnicos para professores e livros de ficção para crianças e jovens, com títulos selecionados pelo PNBE/MEC, pelo Selo Cátedra 10, pelo Selo Estraladabão ou com indicação para o Prêmio Jabuti. Foi o primeiro colocado na categoria infantil e o segundo colocado na categoria juvenil do Prêmio Edebê de Literatura 2020. Publicou pela Vozes: Contar histórias: a arte de brincar com as palavras, O uso de textos na alfabetização: formação inicial e continuada e Contar histórias com maestria. Idealizou o Portal Roda de Histórias (premiado pelo Ministério da Cultura [MinC]).
Site: www.fabianomoraes.com.br
Insta: @escritorfabianomoraes
YouTube: Fabiano Moraes
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