O significado dos conflitos - Complexos e temas de vida como oportunidades de crescimento

O significado dos conflitos - Complexos e temas de vida como oportunidades de crescimento

Por: Leonardo Tondato de Mello

Qual é o nosso chamado de vida? Como se pode alinhar com tal chamado? O que os nossos complexos nos ensinam sobre nós mesmos?

A nova obra de Verena nos leva em uma profunda reflexão acerca das questões dos complexos e seus efeitos durante o curso da vida do indivíduo. Realizando uma reflexão sobre a teoria dos complexos dentro da teoria junguiana, a autora contribui com importantes reflexões sobre os afetos que envolvem a situação orbitária do complexo, com as reflexões e observações de casos clínicos.

O começo da obra nos conta sobre os temas da vida que, de maneira aberta ou sussurrante secretamente, se manifestam desejos e aspirações que o indivíduo possui por algo que almeja em ser realizado, mesmo que não tenhamos consciência, há uma influência dos temas da vida, desejantes, se mostrando pulsantes na dinâmica do ser.

Como podemos perceber os temas da vida e os desejos? Como a autora nos diz, podem vir de maneira consciente ou inconsciente. Através do viés da inconsciência, percebemos os temas através de nossas fantasias, imaginações e nos devaneios que possuímos na vida, sendo que a nossa identidade é influenciada por esses objetivos, uma vez que estão conscientes.

É claro que, ao longo da vida, pode existir um movimento de remodelação de tais objetivos. Se há uma frustração de tais desejos que as pessoas se sentem intimamente ligadas e vinculadas, há uma vivência de sofrimento.

Sobre a questão dos temas, Verena propõe algumas perguntas que podem vir a revelar quais são esses temas, que possuem grande importância para o indivíduo. Muitas vezes, ao se analisar a história do sujeito, os temas podem ser observados, evidenciando sua relevância e como eles tocam o sujeito e dão também uma espécie de “tom” para o indivíduo, em meio à narrativa de sua trama de vida.

Seguindo a obra em questão, Kast nos revela que as grandes temáticas da vida de uma pessoa podem trazer a sua presença dentro dos caminhos ocultos dos problemas. Ali, no núcleo do problema, pode existir a temática da vida, um substrato, aguardando para ser encontrada e ansiando a sua possível realização.

É a partir da questão dos temas da vida, que funcionam como uma espécie de figura e fundo da obra, que Verena Kast fala sobre um ponto importantíssimo que será desenvolvido em sua obra: os complexos.

Partindo do ponto da teoria original dos complexos, postulada por Jung e que possui papel basal dentro da psicologia analítica, que é retomada na obra enquanto explicação sobre o que é a teoria dos complexos e como os complexos autônomos ou os complexos ideoafetivos e os seus efeitos na vida do indivíduo.

Utilizando-se de relatos de casos clínicos de diferentes homens e mulheres, em diferentes momentos da vida, a autora, de maneira corajosa, se permite aventurar-se dentro da questão dos complexos com os seus pacientes e buscar, em seu cerne questões que estão intimamente ligadas ao passado, geralmente na relação da família nuclear de tais pacientes, com seus pais, avós e irmãos. Momentos de dor e sofrimentos são relatados por seus pacientes, ao se recordarem de momentos da infância, cenas, em que se recordam de aspectos e acontecimentos em que sentimentos negativos ou privações lhe invadiram e foram marcantes para o seu processo de desenvolvimento e crescimento.

Comparo o trabalho desenvolvido por Verena em sua obra com o ofício de uma arqueóloga. Ao trabalhar com a psique e com os complexos que a circundam, a autora realiza um sensível movimento e delicado, com as suas ferramentas disponíveis, tais como a escuta, as perguntas que realiza para seus pacientes, a fala e o setting analítico como local do sítio e lida como preciosos e ricos materiais.

Escavando e trabalhando com os complexos, a autora realiza o trabalho de compreender os temas de vida que estão contidos nele, dando tons e resgatando os motivos dos temas de vida que ficaram sugados pela carga energética que o complexo possui, podendo devolver, assim, tal energia para que os temas de vida sejam resgatados e proporcionam ampliação da consciência e transformação na atitude do sujeito, que passa a se compreender melhor e ter outras ações perante a vida.

É uma leitura importantíssima que resgata a importância e a difícil tarefa de lidar com os complexos na prática clínica, que psicólogos se deparam no decorrer de sua prática.

Leonardo Tondato de Mello é psicólogo, historiador, filósofo. Especialista em: Psicoterapia junguiana, Mitologia Comparada, Mitologia Criativa Contos de Fadas e Psicologia analítica, Arteterapia, Psicanálise dos Contos de fadas. Mestre em Gerontologia Social, doutorando em Ciência da Religião e candidato – analista pelo IJUSP.