O psicodiagnóstico e a formação à vida religiosa consagrada e presbiteral
Por: Marcos dos Santos Baptista
A formação para a vida consagrada e presbiteral é um caminho vocacional profundo, exigente e essencial para o cuidado da Igreja e da comunidade. Neste percurso de amadurecimento humano e espiritual, o psicodiagnóstico emerge como instrumento de escuta, discernimento e acompanhamento — não como julgamento, mas como cuidado. O lançamento do livro O psicodiagnóstico e a formação à vida religiosa consagrada e presbiteral, de Vagner Sanagiotto, pela Editora Vozes, é uma contribuição oportuna, ética e sensível para todos os que se dedicam a formar, acolher e orientar vocações.
Vagner Sanagiotto, com sua sólida experiência na intersecção entre psicologia clínica e formação vocacional, nos oferece um texto que articula com profundidade três dimensões essenciais: o olhar técnico do psicodiagnóstico, a escuta clínica da subjetividade e o respeito à dimensão espiritual e comunitária dos processos formativos. O livro responde a uma necessidade real: como identificar sinais de sofrimento psíquico, traços de personalidade ou conflitos internos sem desrespeitar o mistério da vocação? Como a psicologia pode ser aliada do amadurecimento afetivo e espiritual, sem se tornar obstáculo à fé?
Com linguagem clara e postura ética, o autor propõe que o psicodiagnóstico, longe de ser um exame frio ou classificatório, pode e deve ser um espaço de escuta empática, de compreensão integral da pessoa e de serviço ao discernimento vocacional. Trata-se de um livro que supera dicotomias entre fé e ciência, alma e psiquismo, e propõe uma abordagem integradora — fiel à psicologia enquanto ciência, e atenta à delicadeza da vida religiosa e ministerial enquanto chamado.
Entre os aspectos mais ricos da obra estão: – A apresentação dos fundamentos do psicodiagnóstico no contexto formativo; – A análise cuidadosa das etapas, instrumentos e objetivos desse processo; – A ênfase na ética, no sigilo e no respeito à liberdade do vocacionado; – E, sobretudo, a valorização da psicologia como mediação do cuidado e da escuta, não como juíza do chamado espiritual.
Este livro interessa não apenas a psicólogos e psiquiatras, mas também a conselheiros espirituais, superiores religiosos, seminaristas e todos os que desejam compreender melhor a complexidade do amadurecimento humano na vida consagrada. Ao propor uma abordagem contendo um psicodiagnóstico humanizado, o autor colabora para que os processos vocacionais não sejam reduzidos a formalidades ou idealizações, mas se tornem verdadeiros itinerários de crescimento pessoal, emocional e espiritual.
Como pastor e psicólogo, vejo nesta obra uma ponte valiosa entre o cuidado pastoral e o cuidado psicológico — entre o chamado que vem de Deus e a resposta que brota da liberdade humana. Em tempos em que tantas vocações se fragilizam diante das pressões internas e externas, a escuta clínica pode ajudar a resgatar o sentido, o compromisso e a autenticidade da entrega vocacional.
Mais do que um manual técnico, este livro é um convite à delicadeza no cuidado formativo. Ele nos ensina que formar é acompanhar, discernir e confiar; e que a psicologia, quando usada com responsabilidade e empatia, é uma aliada da graça e não sua concorrente.
E encerro minhas considerações trazendo uma frase de Viktor Frankl que comunga com essa visão integradora da psicologia como aliada da vocação:
“O ser humano não é apenas um ser que existe, mas um ser que se posiciona em relação à sua existência.”
Viktor E. Frankl, Psicoterapia e Sentido da Vida.
Marcos dos Santos Baptista Psicólogo é pastor e pesquisador em Logoterapia e Psicologia da Religião.
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