A Igreja no mundo sem Deus: explanação de temas sobre o ser humano, a ciência, violência e o mundo

A Igreja no mundo sem Deus” é um comentário sobre a Constituição Pastoral Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II (1962-1965), que trata da Igreja no mundo de hoje. O comentário é de Thomas Merton, monge trapista, que acentuadamente escreve numa perspectiva religiosa e contemplativa. A obra foi publicada, originalmente, no mesmo ano da promulgação do documento conciliar, isto é, em 1965.

Apesar de ser um comentário da Gaudium et Spes, este livro abarca também outras questões, a fim de que a compreensão acerca da Constituição seja frutuosa. Assim, há explanação de temas sobre o ser humano, sobre a ciência, sobre violência e sobre o mundo. Acerca do mundo, importa frisar, Merton já no início faz um apanhado histórico e geral da compreensão do termo. Faz isso, pois a Constituição Pastoral, bem como o próprio Concílio Vaticano II, busca dialogar com o mundo, não mais numa linguagem condenatória e apologética, mas num desejo de caminhar e crescer, numa mútua troca de dons.

O autor busca conduzir aquele que é cristão à compreensão de que há um ideal comum, que liga todos os seres humanos, independentes de suas religiões e posicionamentos, ou seja, a busca por um mundo melhor. Assim, Merton, utilizando alguns números desta  Constituição do Vaticano II e as ideias predominantes neles, parte para uma orientação e desmistificação de uma vida espiritual centrada em si e fechada às outras realidades. Insiste-se na ideia de que não deve haver uma divisão entre a fé e as outras áreas da vida.

Outro detalhe importante é o assento no ser humano, na sua importância e no seu papel, bem como a necessidade de garantir a dignidade da pessoa e dos seus direitos básicos. Assim, Merton afirma que é um equivoco ter de escolher Deus ou o ser humano, pois “não é simplesmente ou Deus ou o ser humano, mas encontrar Deu amando ao ser humano, e descobrindo o sentido verdadeiro do ser humano em nosso amor para com Deus” (p. 43).

Por fim, tendo a Constituição Pastoral Gaudium et Spes como chave de leitura para compreender a relação da Igreja  e do cristão com o mundo e com a sociedade, Thomas Merton  aborda o tema do serviço, o que ele denomina de amor ativo, lembrando que esse deve ter um senso contemplativo do mistério da alteridade, caso contrário a doação de si não será verdadeira nem fecunda, lembra ainda que essas práticas não devem ser apenas uma aspecto do campo espiritual, mas uma prática efetiva no contexto de ação social. Esse amor ativo é fruto da consciência de responsabilidade que cada pessoa tem do seu papel na vida em sociedade.

Leonardo Henrique Agostinho, MSC
Religioso da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração,

formado em Filosofia e estudante de Teologia, na PUC-SP.