A caminho: o espírito e a prática das bem-aventuranças

A Caminho, de Jean-Yves Leloup, traz reflexões sobre As Bem-Aventuranças. Para as meditações ele se vale de uma tradução sua, com um amigo, desse trecho do Evangelho. Assim, para as primeiras palavras das Bem-aventuranças utiliza-se “a caminho”. Com esse termo, segundo Leloup já na introdução, se quer indicar não ficar parado, recomendando que se dê um passo a mais, além do obstáculo, além daquilo que segura e prende.

Logo no início o autor questiona se, num mundo tão desenvolvido, ainda há necessidade para Bem-aventuranças; pergunta também se essas palavras pronunciadas por Jesus continuam atuais. A resposta é que não basta progredir e crescer horizontalmente, mas é preciso acontecer um progresso e um crescimento que seja na vertical, que dê qualidade ao viver, no âmbito da consciência e da liberdade.

Assim, A Caminho, as palavras iniciais de cada Bem-Aventurança, indicam o imperativo dirigido a cada homem e mulher que o escuta, para que esteja desperto, afim de acolher aquilo que o realiza e o eleva. Leloup recorda que em vários outros momentos no Evangelho Jesus disse essas palavras, isto é, “A caminho”: à mulher adúltera, ao cego, ao paralítico, também à Lázaro, à Maria Madalena no domingo da ressureição. Relembra ainda que são essas palavras que Deus dirige a Abrão em Gênesis 10,11 e que ela está no diálogo entre o amado e a amada no Cântico dos Cânticos.

Na obra, ao passar por cada uma das oito bem-aventuranças, evidencia-se felicidade e infortúnio; sendo felicidade compreendida como estar em marcha, caminhando, superando obstáculos e infortúnio como estar parado, estagnado, em círculo, dando voltas em si mesmo e em torno de alguma coisa. Leloup lembra que toda ocasião é momento para a felicidade, pois toda ocasião conduz para um avançar, um crescer em consciência e em amor, fazendo uma passagem.

As Bem-Aventuranças são apresentadas por Jean-Yves Leloup como um processo de transformação, que conduz o ser humano ao Bem-Aventurado e que coloca a pessoa em dinâmica de caminhada, sem se deixar deter por nada. Ainda, apresenta as Bem-Aventuranças como um itinerário de cura, rumo a uma saúde maior e uma liberdade. A caminho não é um convite para seguir caminhando somente em frente, mas um chamado à mergulhar dentro de si, no silêncio, rumo à pacificação. Seguindo o imperativo das Bem-aventuranças, no caminho não importa conhecer o destino, mas importa saber com quem se caminha. No caminho, Deus se faz presença e meta.

Leonardo Henrique Agostinho, MSC
Religioso da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração,

formado em Filosofia e estudante de Teologia, na PUC-SP.